Organização do trabalho na escola a partir das
ações do coordenador pedagógico visando uma gestão democrática
INTRODUÇÃO
O texto parte do entendimento de que
os sistemas de ensino existem como instrumentos que garantem a continuidade da
ação educativa sistematizada e de que, por isso, todas as suas ações têm como
meta possibilitar que as escolas cumpram suas finalidades, além de intencionar
construir um novo fazer da ação pedagógica e formar no aluno em um “novo
cidadão”.
Partindo dessa ideia, inicialmente foi
proposta a leitura do texto pelo grupo de professores durante a realização do
planejamento pedagógico, seguido de pausas para a discussão do que estava sendo
lido e como os presentes percebiam as colocações da autora. Um ponto muito
discutido foi o entendimento que se tem de "novo cidadão" e como a
Escola se coloca frente a exigência de formá-lo. Seguindo o corpo do texto
trabalhado, seguiram-se as discussões sobre a organização do trabalho no
interior da escola, tais como o projeto político-pedagógico, o trabalho
coletivo, o conhecimento e as competências pedagógicas. Além-claro de se
abordar as dificuldades e os entraves que devem ser considerados.
De acordo com o que se apresenta no
texto, os presentes concordam com a ideia de que formar o novo cidadão (o
cidadão necessário) no aluno significa formá-lo com capacidade para ter uma
inserção social crítica/transformadora na sociedade em que vive. Ou seja, a
sociedade civilizada, fruto e obra do trabalho humano, cujo elevado progresso
evidencia as riquezas que a condição humana pode desfrutar, revela-se também
uma sociedade contraditória, em que grande parte dos seres humanos está à
margem dessa riqueza, dos benefícios do progresso, da humanização, enfim.
Assim, educar na Escola significa ao mesmo tempo preparar as crianças e os
jovens para se elevarem ao nível da civilização atual - da sua riqueza e dos
seus problemas - para aí atuarem. Isto requer uma preparação científica,
técnica e social. Por isso, a finalidade da Escola é possibilitar que os alunos
adquiram os conhecimentos da ciência e da tecnologia, desenvolvam as
habilidades para operá-los, revê-los, transformá-los e redirecioná-los em
sociedade e as atitudes sociais - cooperação, solidariedade, ética -, tendo
sempre como horizonte colocar os avanços da civilização a serviço da
humanização da sociedade.
Sem sombra de dúvidas que essa é uma tarefa
ampla, complexa e nova, que requer que as escolas, os sistemas de ensino se
direcionem, se organizem, se equipem para isso; revejam sua organização e se
organizem de um modo novo. Esse novo precisa ser construído a partir do já
existente, pelos atores da Educação - os
profissionais, os alunos, as famílias. Para chegar à explicitação da nova
organização é necessário que a Escola traduza para si, especifique e detalhe os
avanços e os problemas da civilização atual - a riqueza e a miséria: a fome, a
falta de moradia, de trabalho, a violência, a acumulação, a barbárie etc.
De acordo com a leitura do texto e as
questões nele apresentadas, o grupo também deu suas contribuições. Algumas
perguntas tiveram respostas similares ao que propõem a autora em sua pesquisa.
PRINCIPAIS DEBATES TEÓRICOS SOBRE A
TEMÁTICA
Quais desafios a problemática da
civilização coloca para a Escola, a fim de que esta forme o novo cidadão?
Como a Escola vai traduzir no seu e
pelo seu trabalho essa problemática?
Considerando também que estas são as
questões fundamentais da nova organização do trabalho na Escola, observa-se que
não são privilegio de uma ou outra instituição, mas que as escolas, partícipes
da mesma problemática civilizatória, não são, entretanto, iguais. Por isso, não
se deve tratar de forma geral as atividades que tem por finalidade organizar o
trabalho escolar, haja visto a necessidade de se considerar as peculiaridades
de cada local. É importante não procurar chegar-se a um modelo universal. Isto
não dá conta dos novos problemas atuais. No entanto, a história recente também
nos mostra que é possível definirem-se alguns princípios norteadores para essa
organização nova, sendo eles: o projeto político-pedagógico, o trabalho
coletivo e o conhecimento da ciência pedagógica.
O
Projeto Político-Pedagógico
O
projeto político-pedagógico resulta da construção coletiva dos atores da
Educação Escolar. Ele é a tradução que a Escola faz de suas finalidades, a
partir das necessidades que lhe estão colocadas, com o pessoal -
professores/alunos/equipe pedagógica/pais - e com os recursos de que dispõe.
Esses
elementos todos são mutáveis, modificam-se de ano para ano, no mesmo ano; de
Escola para Escola, na mesma Escola. Por isso, o projeto não está pronto, mas
em construção. Nele, a equipe vai depurando, explicitando, detalhando a inserção
dessa Escola na transformação social. O projeto político-pedagógico ganha
consistência e solidez à medida que vai captando sistematicamente a realidade
na qual se insere. Daí ser a realização contínua de diagnósticos dessa
realidade um instrumental importantíssimo nessa construção. Diagnóstico aberto,
que não se cristaliza e que não se encerra na constatação da realidade, mas que
a lê e a
Interpreta - o que supõe conhecimento/posicionamento teórico/prático da equipe.
O
Trabalho Coletivo
O resultado almejado pela Escola -
contribuir para o processo de humanização do aluno-cidadão consciente de si no
mundo, capaz de ler e interpretar o mundo no qual está e nele inserir-se
criticamente para transformá-lo - não é alcançado pelo trabalho parcelado e
fragmentado da equipe escolar - à semelhança da produção de um carro, onde um
grupo de operários aperta, cada um, um parafuso, sempre da mesma maneira,
conforme o que foi concluído fora da linha de montagem -, mas sim com o
trabalho coletivo. Neste há a contribuição de todos no todo e de todos no de
cada um. A especialização de um não é somada à especialização de outro, mas ela
colabora com e se nutre da especialização do outro, visando a e por causa de
finalidades comuns.
O trabalho coletivo tem sido apontado
por pesquisadores e estudiosos como o caminho mais profícuo para o alcance das
novas finalidades da Educação Escolar, porque a natureza do trabalho na Escola
- que é a produção do humano - é diferente da natureza do trabalho em geral na
produção de outros produtos.
No
entanto, reconhece-se, de um lado, que o trabalho coletivo não é tarefa
simples, uma vez que a Humanidade, durante séculos e séculos em sua história,
acostumou-se a formas de vida individualistas. De outro lado, o coletivo
carrega uma contradição que precisa ser explorada. Forjada no modo de produção
capitalista, a cooperação - inerente ao coletivo - é, conforme HYPOLITO (1991,
p. 18), fundamental para que o trabalho da Escola se realize de acordo com os
objetivos "(...) mas esta realidade é contraditória, pois se a cooperação
pode ser um fator de estabilidade para o poder, ao mesmo tempo a reunião dos
trabalhadores coletivos possibilita uma unidade de interesses e favorece formas
de resistência à dominação".
Complexidade
da Organização Escolar
A(s) escola(s) é(são) múltipla(s),
conjuntos, sistemas - o que requer competências administrativas para traduzir
essa complexidade dos sistemas em benefício ao atendimento da finalidade que a
Escola tem. Contudo, a Escola em si é complexa. A finalidade que busca não é
simples de ser conseguida. Precisa da contribuição de vários profissionais
especializados - professores/equipepedagógica/direção/coordenação/orientação/equipe
de apoio. A organização da Escola é competência de todos - dentro e fora da sala
de aula.
A sala de aula é determinada pelo que
a circunda para além de suas paredes - e, em certa medida, interfere para além
de suas paredes. Como é durante a aula que se dá a essência da Educação
Escolar, é para ela que devem convergir as várias competências dos
profissionais da Escola - o que não significa que todos atuarão na sala de
aula!; o que não significa, também, que nela só atuam os professores; o que não
significa, também, que os professores só atuam ali; nem que as equipes
pedagógicas e de apoio só atuam fora dali; nem que aí só elas atuam. Enfim, a
organização da Escola é coletiva - requer o concurso de especialistas que atuem
coletivamente. Entendendo, ainda, que o coletivo não significa
"todos fazerem a mesma coisa", é possível identificar competências
específicas da equipe pedagógica: a administração e a coordenação pedagógica de
curso, período, turmas, áreas, projetos etc. É interessante observar que,
colocadas nesta sequencia, as tarefas de coordenação evidenciam a possibilidade
de algumas delas serem desempenhadas por pedagogos - coordenação de curso, de
períodos - e outras por professores - coordenação de turmas, período, áreas. Já
a coordenação de projetos não é possível ser estabelecida a priori; ela depende
do projeto. Entendendo, ainda, que os conhecimentos pedagógicos têm sido
desenvolvidos explícita,intencional e sistematicamente nos cursos de Pedagogia
que formam pedagogos, a presença destes na Escola é imprescindível como forma
de trazer os conhecimentos pedagógicos necessários para a Escola. Seja nas
tarefas de administração - entendida como organização racional do processo de
ensino e garantia da perpetuação deste nos sistemas, de forma a consolidar um
projeto político-pedagógico de Educação Escolar -, seja nas tarefas que colaborem
com os professores no ato de ensinar de modo que os alunos aprendam.
Traduzindo as Competências da Equipe Pedagógica
Retornando
às finalidades da Educação Escolar, explicitadas no item Finalidade da Educação
Escolar - O "Novo Cidadão", vamos dizer que o eixo central
articulador do trabalho coletivo da equipe escolar é traduzir os conhecimentos,
as habilidades e as atividades necessários à formação do novo cidadão.
Portanto, a consecução do projeto político-pedagógico precisa ser planejada,
organizada, explicitando-se contínua e sistematicamente o quê - os conteúdos do
trabalho escolar -, o porquê - a quais necessidades se articulam -, como fazer
- projetos, cursos etc. -, quem faz - as responsabilidades, as competências -,
quando, como etc. É trabalho para muitos. Algumas tarefas pelas quais a equipe
pedagógica pode ser responsabilizada:
- coordenar
e subsidiar a elaboração dos diagnósticos da realidade escolar nos vários
níveis;
- coordenar
e subsidiar a elaboração, execução e avaliação do planejamento: plano da
Escola; planos de cursos, de turmas, de ensino etc.;
-
incentivar e prover condições para a elaboração de projetos de alfabetização,
leitura, visitas, estudo de apoio, orientação profissional, saúde e higiene,
informática, ética etc.;
-
compor turmas e horários, com critérios que favoreçam o ensino e a
aprendizagem;
-
capacitar em serviço;
- fornecer
assistência didático-pedagógica constante;
-
assegurar horários para reuniões coletivas, planejá-las, coordená-las,
avaliá-las etc.;
-
definir claramente, quanto às reuniões com pais, em que a presença destes é
importante
na construção do projeto político-pedagógico, traduzindo essa participação;
-
promover a articulação orgânica das disciplinas;
-
acompanhar o rendimento escolar dos alunos;
-
prever formas de suprir possível defasagem no rendimento escolar do aluno;
-
propiciar trabalho conjunto por áreas, por séries etc., para analisar,
discutir, estudar,
- atualizar,
aperfeiçoar as questões pertinentes às áreas, às séries e ao processo
ensino-aprendizagem;
-
promover a integração de professores novos na Escola;
-
pesquisar causas de evasão, repetência e outras.
Dificuldades
e Entraves
Sem pretender esgotá-las, é possível
apontar algumas dificuldades para a acentuação coletiva do projeto
político-pedagógico da Escola. Identificar as dificuldades não significa parar
nelas, mas mapeá-las para vermos com clareza as formas de superá-las. Uma
primeira dificuldade refere-se à formação dos profissionais da Escola. Amplamente
analisada como precária - e até inexistente -, a formação também tem sido
apontada como insuficiente, porque não formou o novo profissional para
construir o novo.
Não se trata de mandar os
profissionais de volta para a Faculdade, nem de esperar que esta se modifique
para fazer "o novo". Trata-se de retomar a Faculdade - os
conhecimentos, a formação que trabalhou - e confrontá-la com as necessidades
que o novo coloca. Aí, garimpar o aproveitável, fortalecê-lo e ampliá-lo, por
meio da atualização -cursos, bibliografia, estudos, troca e crítica de
experiências etc.
Uma segunda ordem de dificuldades diz
respeito ao institucional/cultural - sociedade competitiva, eivada de
autoritarismo, de individualismo. Como fazer diferente se somos marcados por
isso tudo? Parece-me que não somos pura e simplesmente a reprodução mecânica do
que fizeram conosco. Ou somos? Outra ordem de dificuldades concerne aos
aspectos pessoais: as convicções e ideologias arraigadas e cristalizadas; o
mito do sucesso pessoal a qualquer preço; a timidez, a falta de arrojo e de
coragem para empunhar bandeiras e lutar por elas... Todas essas dificuldades
são passíveis de serem superadas. A realidade de nossas escolas está mostrando
que sim. Mas não sem sofrimento e luta.
PRINCIPAIS QUESTÕES RELACIONADAS NO
DEBATE REALIZADO COM A COMUNIDADE ESCOLAR
A atividade foi realizada durante o
planejamento pedagógico e portanto só estavam presentes os professores e alguns
PCA’s (= professores coordenadores de área)
e PDT’s (=professores diretores de turma), que no final acabam sendo
todos professores que no momento estão em funções aquém sala de aula.
Um fato curioso, que assim como eu, que
ainda tenho o argumento de estar iniciando na casa a pouco tempo, outros
professores dizem desconhecer o PPP (=projeto político pedagógico).
Quanto ao trabalho coletivo, em nossa
categoria de forma convencional até então, eu observava uma certa desunião,
contudo, para minha surresa, nessa escola, a categoria até agora tem se
mostrado muito unia e receptiva para a tomada de decisão em conjunto e mesmo
realização colaborativa das atividades, tanto as pedagógicas comoas de cunho
político. Diante o exposto no texto, no que se refere ao trabalho coletivo,
comentou-se que a integração de todos os atores da escola é de fundamental
importância, mas que nem sempre esses atores são capacitados para desenvolver
determinados papeis impostos pelo sistema educacional. De que forma um
professor(a) pode auxiliar um aluno com deficiência de aprendizagem em uma sala
com 40 crianças, ou como no ensino médio , o profissional ao diagnosticar um
aluno com dificuldades de leitura e escrita pode minimizar a situação. Esses e
tantos outros questionamentos surgiram ao longo da atividade. Muitas vezes o
profissional é até discriminado pelos demais colegas quando busca a melhoria
das condições de aprendizagem de determinados alunos com necessidades mais
específicas. O que certamente o desestimulará.
Dessa forma, se faz necessário sim a
presença na escola de outros profissionais além dos professores.
COMO,
ATUANDO COMO COORDENADOR/A PEDAGÓGICO/A, PODEREI CONTRIBUIR COM AÇÕES QUE VISEM
IMPLEMENTAR OS TEMAS TRATADOS NO DEBATE COM A SUA COMUNIDADE ESCOLAR.
Além
das proposições feitas no texto, no relato dos participantes foi possível
perceber a necessidade do diálogo constante entre os membros do núcleo gestor e
funcionários, para que dessa forma todos trabalhem em uma mesma sintonia e
tomem as mesmas decisões. Além disso, o grupo de professores deve se sentir
constantemente valorizado, para que possam se estimular para desempenhar da
melhor forma suas atribuições.
CONCLUSÕES
Por
fim é possível afirmar que há muito o que fazer. Nesta tentativa de traduzir a
competência da equipe pedagógica, fica claramente evidenciado o significado de
trabalho coletivo na Escola - não é possível trabalhar fragmentadamente o
objeto do trabalho da Escola, não dá e não é desejável estabelecer fronteiras
claramente delimitadas sobre o que compete a quem, mas dá para identificar
claramente que este trabalho precisa de competências específicas.
Edneide Silva
PIMENTA, S. G. Questões sobre a organização do
trabalho na escola.
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