terça-feira, 27 de janeiro de 2015

CARTA A EXCELENTÍSSIMA PRESIDENTE DA REPÚBLICA


Dilma Rousseff,

Meu nome é Edneide Silva, tenho 37 anos e, contrariando as minhas próprias expectativas com relação às pessoas com nomes incomuns, não sou rica, não possuo casa própria, pois ainda moro com minha Mãe e tenho um filho de 18 anos. Essa carta tem o propósito de aliviar a angústia que venho sentindo desde que comecei a perceber o mundo à minha volta e, já que Vossa Excelência é a autoridade máxima do país, eleita pela maioria dos eleitores, e novamente candidata no pleito desse ano,  achei por bem que seria Vossa Excelência a destinatária certa para esta mensagem. E, ao escrever, talvez eu seja capaz de amainar a tristeza que sinto quando olho para o estado em que meu país se encontra, principalmente no tocante à Educação. Ah, como pode, já ia esquecendo, não por vergonha, mas talvez pelo fato de ser a minha primeira carta endereçada a pessoa que ocupa cargo público de tanta responsabilidade, SOU PROFESSORA. Formei-me no ano 2000, mas desde 1998 trabalho em escolas públicas e privadas. De lá pra cá muita coisa mudou, muita coisa mesmo, mas há de se convir que há ainda muito mais que se mudar e creia, deve ser pra melhor. Estou concluindo a terceira pós-graduação, mas somente a 3 anos e 10 meses consegui me efetivar na rede pública estadual de ensino do Estado do Ceará. Até então, trabalhei por contrato temporário tanto na Prefeitura de Fortaleza como no Estado. Um fato que seria curioso se não fosse catastrófico, foi que em 2 anos que passei como professora substituta de Ciências na Prefeitura, nunca consegui vaga para lecionar essa disciplina, tendo por isso que trabalhar com Literatura, Inglês e Matemática. Sempre que me dirigia a uma Secretaria Executiva Regional, a resposta era que não havia carência na área. O que me levou a concluir o tempo de contrato sem nunca ter ministrado nenhuma aula de Ciências. Outro fato que gostaria de mencionar é que estou prestes a concluir uma especialização em Coordenação Escolar, pela Universidade Aberta do Brasil em parceria com a Universidade Federal do Ceará, e que foi durante esse curso que muitos questionamentos surgiram sobre a atual situação educacional em nosso país. Sinceramente, não entendo muito de política, nem de economia, muito menos de como governar. A senhora, no entanto, provavelmente já estava na política antes mesmo de eu nascer. Por isso, como cidadã de um país que, apesar de velho, ainda engatinha, recorro a Vossa Excelência em algumas dúvidas que ninguém foi capaz de esclarecer até hoje. Certamente porque desconheça ou mesmo esteja equivocada, preciso somente de algumas explicações. Talvez não seja sua culpa, mas atualmente a senhora é a pessoa que me representa, e a todos os brasileiros. Desde os seus entes queridos, até os meus entes queridos, a senhora possui a grande responsabilidade de cuidar do nosso bem estar. A responsabilidade de cuidar de quase 200 milhões de pessoas é muito maior do que, confesso, eu conseguiria carregar e, sinceramente, não sei de onde as pessoas obtêm forças para executar tarefa de tamanho peso. Porém, como brasileira, acredito que, por menos informada que seja a minha opinião, de acordo com algum grande livro – que talvez seja a Constituição ou o Código Civil, não sei – eu viva em um país democrático, onde todo cidadão tem o direito de ser ouvido, por mais humilde e desprovido de educação que seja.Como ser humano, como cidadão, como seu irmão, Vossa Excelência, observo que a maior parte de nossa população possui necessidades básicas negligenciadas. Na Constituição está determinado que todo cidadão tem direito à Educação de qualidade, mas não consigo visualizar essa Lei sendo fielmente cumprida. Ou serei eu quem não entende o que significa EDUCAÇÃO DE QUALIDADE? A maior parte da população do nosso país precisa de um teto para morar embaixo, precisa de se alimentar, escovar os dentes depois de se alimentar, precisa de sapatos, roupas… remédios. Vossa Excelência também precisa dessas coisas, não? Tudo isso é responsabilidade de Vossa Excelência e de sua equipe, não é? Ressalto novamente que não sou cientista político e devo confessar que sempre deixei essa área da minha vida no piloto automático. Admito que isso é um pecado contra a democracia e que todos os brasileiros, por pior que sejam suas condições, devem se levantar da poltrona confortável do comodismo e começar a cobrar atitudes daqueles que pediram nossos votos e os conquistaram.Acredito, inclusive, que a maior parte dos meus conterrâneos não tem a menor ideia das prerrogativas dos seus colegas aí do governo e, por isso, acabam por ter violados direitos que nem sabem que possuem. Ora, eu também não conheço todos os meus direitos, mas acredito que eles foram redigidos com base naquelas necessidades básicas, às quais me referi há pouco. Minhas necessidades básicas se manifestaram antes mesmo de eu nascer, isso é óbvio, mas uma delas apareceu quando eu tinha três anos de idade: a escola. Percebi então que todo o resto servia para que eu obtivesse sucesso na escola. Afinal, sem teto, sem banho, sem roupas, sem calçado, sem me alimentar e sem escovar meus dentes, eu não teria o mesmo rendimento na sala de aula e teria dificuldades para aprender. Com essa pequena análise, concluí, aos meus seis anos de idade, que não havia nada mais importante do que a escola, já que sem ela não haveria a possibilidade de eu obter aquelas outras necessidades. Não sei o quanto estou errada, ou o quanto estou certa, mas na sinceridade do meu coração, acredito até hoje nesta premissa: a educação é o que existe de mais importante para o sucesso do maior objetivo do ser humano, que é a busca pela felicidade. Pode ser muita ingenuidade minha, mas creio que a educação vem antes de toda e qualquer outra necessidade e deve estar sempre no topo da lista quando se fala em gastar dinheiro. Talvez se eu explicar como cheguei a essa conclusão, faça sentido para os mais entendidos e eles possam me esclarecer. Se todas as minhas necessidades básicas servem para que eu vá bem na escola, é porque tem alguma coisa lá que vale a pena ficar sentado em uma cadeira dura por um tempo – com um recreio no meio, claro, pra descansar, comer um salgadinho ou correr feito louco. Deve ter algo que eu posso levar pra casa e contar com entusiasmo para os meus pais.Sem escola, a criança não tem condições de chegar à vida adulta com chances de entrar em uma universidade pública, para se tornar um profissional alguns anos depois. Mas que profissional ensina essas crianças? É o professor. Portanto, Vossa Excelência, na opinião desta cidadã, preocupada com seu próprio futuro, o professor deve ser o foco de seu governo. De todos os governos, hoje e sempre. Deveria ser lei.O professor universitário vai capacitar o professor do ensino fundamental e médio. O professor universitário vai transformar o garoto em engenheiro. O professor universitário vai ensinar aquele guri calado a ser um neurocirurgião pioneiro… E talvez um dia, o professor universitário poderá formar políticos que trabalhem para nós, não para si mesmos. Sendo assim, Vossa Excelência, eu acredito que, para que a linda promessa do slogan de seu governo – “País rico é um país sem pobreza” – seja verdadeira, Vossa Excelência deve olhar com muito carinho ao que está acontecendo com os professores que estão sob sua responsabilidade. Eles precisam ser ouvidos, pois são eles os atuais soldados na luta para que a educação brasileira saia do abandono em que se encontra. O salário do professor é o que merece ser o mais alto, pois ele passa a vida estudando em prol da coisa mais importante: a educação. O político, no entanto, pode ter diversas origens e nenhuma delas incluir formação superior, mas seu salário é o maior. Esta cidadã acredita que o salário do político deveria ser o menor, não o maior. É este o pedido que faço nesta carta: por favor, os professores pedem socorro. Ouça-nos. É necessário que haja uma reorganização do sistema educacional brasileiro e URGENTE. Aqui, quero deixar claro que não é apenas o salário, mas a valorização da classe de professores se faz necessário, pois os cursos de licenciatura estão cada vez mais vazios.

Profª.: Edneide Silva

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