FUNÇÃO
DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Muitas são as atribuições de um
coordenador escolar, dentre elas está, em parceria com os demais membros do
núcleo gestor, articular redes de aprendizagem que instalem e sustentem
processos de formação e (auto) formação dos professores, algo que deve ser
assegurada por toda e qualquer instituição, seja ela pública ou privada, pois
essas atividades são essenciais ao profissional da educação para possibilitar
uma boa qualidade de ensino.
Uma pesquisa realizada pela Fundação
Victor Civita sobre o perfil do Coordenador Pedagógico em 2010 revelou que o
cotidiano atribulado da escola responde pela falta de foco do trabalho deste
profissional, materializando-se numa rotina caótica centrada no atendimento a
pessoas em geral, ao sistema educacional e aos alunos, conforme ações listadas
no quadro abaixo:
Atendimento
a pessoas:
•
Atendimento telefônico
•
Atendimento aos professores
•
Reunião com diretor
•
Conversa com alunos
•
Orientação aos pais
•
Substituição de professores
•
Solicitações do Sistema
Cotidiano
dos alunos:
•
Acompanhamento da entrada e saída
•
Organização da classe
•
Sanções disciplinares
Segundo a pesquisa, 50% dos
coordenadores pesquisados atendem telefonemas de pais, do sistema de ensino e
outras instituições todo dia; desses, 70% consideram adequada essa ação; 19%
ficam com a classe quando o professor falta uma ou mais vezes por semana;
desses, somente 38% consideram essa dedicação excessiva. Dos coordenadores
pesquisados, 9% revelam não ter em sua rotina qualquer ação de formação do professor.
Ainda entre os coordenadores pesquisados, 72% costumam acompanhar a entrada e a
saída dos alunos diariamente, 55% conferem se as classes estão organizadas e
limpas. Nesse caos, 26% apenas consideram o tempo dedicado ao projeto político
pedagógico insuficiente. A rotina de trabalho de coordenadores que se organizam
dessa forma restringe-se, em muitos casos, a uma lista de ações e compromissos para
a semana. Muitos anotam em seu caderno as ações que pretendem realizar, os compromissos
que vão marcar, os professores, os alunos, as famílias com quem querem
conversar, e a partir de tais anotações organizam sua agenda semanal.
Assim, ainda pode-se dizer que o
objetivo central do coordenador pedagógico é articular os diversos segmentos da
escola para dar sustentação e efetivar o projeto político pedagógico. O papel
do coordenador escolar é considerado, nesses termos, de extrema importância
para que a ação coletiva aconteça na escola. Sem dúvida, trata-se de um grande
desafio para a superação do fracasso escolar e a qualificação constante do
ensino.
Há uma confusão entre as atribuições
do coordenador e do diretor, ambos integrantes da equipe gestora e líderes
pedagógicos da comunidade. Uma escola que esteja encaminhando um processo de
formação permanente precisa definir o lugar e o papel de cada um nessa
estrutura, para que o todo funcione organicamente – isto é, para que todos
organizem suas rotinas de modo a favorecer o trabalho colaborativo. Somente
quando o coordenador tem clareza de sua função é que ele organiza o seu tempo
de acordo com as suas obrigações, evitando assim ser engolido pelas demandas do
cotidiano e por atividades que não lhe competem. Reconhecer-se na função de
formador docente e articulador do trabalho coletivo na escola é de fundamental importância
para o coordenador pedagógico.
Importante compreender que essa
mudança de paradigma não pode ser realizada isoladamente. É necessário existir
uma organização institucional que possibilite a definição dos papéis e das
funções dos educadores envolvidos, haver investimento na construção de uma equipe
colaborativa e realizar uma formação que ajude a reconceitualizar o papel do coordenador
e do professor. É necessário, pois, organizar uma política de formação
permanente de caráter colaborativo dentro da escola, na qual todos os atores,
cientes de suas atribuições, possam juntos orquestrar uma instituição centrada
na aprendizagem.
Para desempenhar bem sua função, a
coordenação pedagógica organiza seu tempo na escola. Essa organização pressupõe
a elaboração de um plano de trabalho conjunto com a direção da escola, focando
as necessidades da instituição como um todo, a partir das definições do projeto
político pedagógico, bem como a elaboração de um projeto de formação de
professores pautado nas necessidades de aprendizagem dos alunos e dos docentes.
Deve ainda prever tempos e espaços para cada ação no cotidiano da escola: os
espaços formativos (reuniões de formação), os espaços de planejamento e de
acompanhamento do trabalho dos professores e das classes.
Para
dar conta de tudo isso, o coordenador deve elaborar um cronograma semanal e
outro mensal, articulando bem todas as ações, de modo a não fugir dos objetivos
delineados. Será no exercício constante dessa organização que um modelo
diferente de trabalho dentro da escola será construído.
O
QUE NÃO PODE FALTAR NA ROTINA DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Dentre as muitas atribuições do
coordenador,abaixo estão aquelas que são consideradas fundamentais para o
exercício profissional dentro da escola:
1)
Reunião de formação
2)
Observação e acompanhamento do trabalho docente
3)
Acompanhamento
4)
Planejamento da formação
5)
Organização do acervo
6)
Planejamento e estudo das práticas formativas
7)
Produção de registros
8)
Reunião com alunos e professores
Mas frente a tantas atribuições
surge outro questionamento: COMO ORGANIZAR O TEMPO?
Importante lembrar que não há uma
rotina fixa predeterminada. A organização do tempo
deve
ser pensada de acordo com as especificidades e os objetivos do trabalho de cada
coordenador e o projeto político pedagógico da escola.
Deste modo, para exercer a função de
Coordenação Pedagógica é exigido um perfil profissional em que a capacidade de promover
e coordenar o processo de qualificação da prática docente seja fundamental.
Entretanto, é comum que esses coordenadores usem seu tempo para atividades que
nem sempre têm a ver com o pedagógico, quando, na realidade, este Coordenador,
como integrante da Equipe Gestora da escola, é corresponsável pela sala de
aula, pelo trabalho realizado pelo professor e pelos resultados dos alunos.
Isto não significa que deva abandonar as demais atividades, mas é preciso
priorizar sua função de formador e articulador. No contexto dessa nova
perspectiva profissional, a centralidade atribuída aos coordenadores e as
exigências a eles apresentadas acarretam consequências para a organização e a
gestão da escola, evidenciando a reestruturação do trabalho e a consequente alteração
na sua natureza e definição.
Além disso, é fundamental que o
coordenador pedagógico construa uma relação de confiança com os professores. É
preciso cuidar das relações com o grupo de professores e é dentro dessa
perspectiva que a reconstrução de novas formas de relação dentro da escola, de
interação entre profissionais-pessoas, seja também foco de reflexão do coordenador
pedagógico, especialmente na condução democrática do enfrentamento das questões
cotidianas. Pensar a função do coordenador pedagógico no contexto das relações
profissionais estabelecidas no ambiente escolar retira a sua atuação, portanto,
de um lugar meramente tecnicista e procedimental para elevá-la à condição de
elemento fundamental para a apropriação das trajetórias de vida de cada um dos
envolvidos, com seus saberes e dilemas.
No processo de construções
coletivas, o coordenador pedagógico precisa “ser um outro que analisa a
situação sob pontos de vista às vezes ocultos para o professor”
(PELISSARI,2007). Nessa mediação, é preciso, entretanto, considerar que os
professores não são alunos do coordenador pedagógico, mas profissionais em
formação. Isto implica considerar os professores como sujeitos intelectualmente
ativos, ou seja, reconhecer que os professores, assim como as crianças, também
constroem conhecimentos a partir de suas representações e que suas
aprendizagens também acontecem por aproximações sucessivas. Afinal de contas, “formar
não é ensinar às pessoas determinados conteúdos, mas sim trabalhar
coletivamente em torno da resolução de problemas. A formação faz-se na
‘produção’, e não no ‘consumo’, do saber” (NÓVOA, 1988).
Sendo a escola o cenário de
qualificação profissional do professor, a sala de aula deve ser considerada, ao
mesmo tempo, o ponto de partida e o ponto de chegada das ações formativas.
Para
ajudar os professores a qualificar o seu trabalho, o coordenador pedagógico
precisa considerar o conhecimento produzido acerca das estratégias formativas e
adequá-las aos diversos conteúdos previstos, em diferentes espaços formativos.
Não é de qualquer jeito que se faz formação de professores. Para realizar um
trabalho de qualidade, é preciso conhecer a discussão sobre o objeto de
conhecimento e sobre os processos de aprendizagem, tanto dos alunos como dos professores.
Isto implica assumir o conhecimento didático como eixo estruturante do trabalho
do coordenador pedagógico. Além disso, o coordenador pedagógico precisa ganhar
a confiança dos professores e colocar-se no lugar de parceiro. Por este motivo,
esta função exige assumir o lugar de um profissional mais experiente que
supervisiona e orienta a prática dos professores. Ser um excelente professor
alfabetizador, por exemplo, não é suficiente para realizar a formação
permanente de professores alfabetizadores. Vale destacar também que não está
dado que o coordenador pedagógico sabe todas as coisas. Além disto, para
assumir esta função não basta ter sido um bom professor. As funções
profissionais de professores e coordenadores pedagógicos não são as mesmas,
portanto, remetem a um conjunto de competências distintas. Os coordenadores
pedagógicos enfrentam problemas profissionais para além daqueles que são
inscritos pela atuação docente na sala de aula e na escola.
Outro grande dilema do coordenador pedagógico
é o de associar o conhecimento e a formação permanente de educadores. Como
ensinar esse conhecimento didático aos professores? Quais as melhores
estratégias para consegui-lo? O que os docentes sabem sobre tais conteúdos e
como atualizam esse saber na sala de aula quando ensinam? O acervo profissional
construído como professor é importante, mas não dá conta de resolver essa
empreitada. Isto é, em resumo, podemos
exemplificar
da seguinte forma: o conteúdo foco de um professor alfabetizador é o
conhecimento didático de alfabetização, enquanto que o conteúdo foco de um
coordenador que pretende formar um professor alfabetizador deve ser como
ensinar o conhecimento didático de alfabetização para o professor. Assim,
torna-se óbvio que para comunicá-lo aos professores, pressupõe-se que os
coordenadores pedagógicos o conheçam. Por este motivo, eles precisam estar em
formação permanente, assim como os professores.
Edneide
Silva
REFERÊNCIAS:
COORDENAÇÃO
PEDAGÓGICA EM FOCO
Ano
XXII - Boletim 1 - Abril 2012 / ISSN 1982 - 0283
NÓVOA, A. As histórias
de vida no projecto Prosalus. In: NÓVOA, Antônio e FINGER, Matthias. O método
(auto) biográfico e a formação. Lisboa: Ministério da Saúde, 1988.
Pesquisa: O perfil do
coordenador pedagógico; realizada pela Fundação Carlos Chagas, com apoio do
Itaú BBA, do Instituto Unibanco e da Fundação Itaú Social. 2010. Foram
pesquisados 400 coordenadores em 13 capitais brasileiras.
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