Meu nome é Edneide Silva, tenho
37 anos e, contrariando as minhas próprias expectativas com relação às pessoas
com nomes incomuns, não sou rica, não possuo casa própria, pois ainda moro com
minha Mãe e tenho um filho de 18 anos. Essa carta tem o propósito de aliviar a
angústia que venho sentindo desde que comecei a perceber o mundo à minha volta
e, já que Vossa Excelência é a autoridade máxima do país, eleita pela maioria
dos eleitores,e novamente candidata no pleito desse ano, achei por bem que seria Vossa Excelência a
destinatária certa para esta mensagem. E, ao escrever, talvez eu seja capaz de
amainar a tristeza que sinto quando olho para o estado em que meu país se
encontra, principalmente no tocante à Educação. Ah, como pode, já ia
esquecendo, não por vergonha, mas talvez pelo fato de ser a minha primeira
carta endereçada a pessoa que ocupa cargo público de tanta responsabilidade,
SOU PROFESSORA. Me formei no ano 2000, mas desde 1998 trabalho em escolas
públicas e privadas. De lá pra cá muita coisa mudou, muita coisa mesmo, mas há
de se convir que há ainda muito mais que se mudar e creia, deve ser pra melhor.
Estou concluindo a terceira pós-graduação, mas somente a 3 anos e 10 meses
consegui me efetivar na rede pública estadual de ensino do Estado do Ceará. Até
então, trabalhei por contrato temporário tanto na Prefeitura de Fortaleza como
no Estado. Um fato que seria curioso se não fosse catastrófico, foi que em 2
anos que passei como professora substituta de Ciências na Prefeitura, nunca
consegui vaga para lecionar essa disciplina, tendo por isso que trabalhar com
Literatura, Inglês e Matemática. Sempre que me dirigia a uma Secretaria
Executiva Regional, a resposta era que não havia carência na área. O que me
levou a concluir o tempo de contrato sem nunca ter ministrado nenhuma aula de
Ciências. Outro fato que gostaria de mencionar é que estou prestes a concluir
uma especialização em Coordenação Escolar, pela Universidade Aberta do Brasil
em parceria com a Universidade Federal do Ceará, e que foi durante esse curso
que muitos questionamentos surgiram sobre a atual situação educacional em nosso
país.Sinceramente, não entendo muito de política, nem de economia, muito menos
de como governar. A senhora, no entanto, provavelmente já estava na política
antes mesmo de eu nascer. Por isso, como cidadã de um país que, apesar de
velho, ainda engatinha, recorro à Vossa Excelência em algumas dúvidas que
ninguém foi capaz de esclarecer até hoje. Talvez pela minha ignorância eu
esteja equivocada e precise somente de explicações. Talvez não seja sua culpa,
mas atualmente a senhora é a pessoa que me representa, e a todos os
brasileiros. Desde os seus entes queridos, até os meus entes
queridos, a senhora possui a grande responsabilidade de cuidar do nosso
bem-estar.A responsabilidade de cuidar de quase 200 milhões de pessoas é muito
maior do que, confesso, eu conseguiria carregar e, sinceramente, não sei de
onde as pessoas obtêm forças para executar tarefa de tamanho peso. Porém, como
brasileira, acredito que, por menos informada que seja a minha opinião, de
acordo com algum grande livro – que talvez seja a Constituição ou o Código
Civil, não sei – eu viva em um país democrático, onde todo cidadão tem o
direito de ser ouvido, por mais humilde e desprovido de educação que seja.Como
ser humano, como cidadão, como seu irmão, Vossa Excelência, observo que a maior
parte de nossa população possui necessidades básicas negligenciadas. Na
Constituição está determinado que todo cidadão tem direito à Educação de
qualidade, mas não consigo visualizar essa Lei sendo fielmente cumprida. Ou
serei eu quem não entende o significa EDUCAÇÃO DE QUALIDADE. A maior parte da
população do nosso país precisa de um teto para morar embaixo, precisa de se
alimentar, escovar os dentes depois de se alimentar, precisa de sapatos,
roupas… remédios. Vossa Excelência também precisa dessas coisas, não? Tudo isso
é responsabilidade de Vossa Excelência e de sua equipe, não é? Ressalto
novamente que não sou cientista político e devo confessar que sempre deixei
essa área da minha vida no piloto automático. Admito que isso é um pecado
contra a democracia e que todos os brasileiros, por pior que sejam suas
condições, devem se levantar da poltrona confortável do comodismo e começar a
cobrar atitudes daqueles que pediram nossos votos e os conquistaram. Acredito,
inclusive, que a maior parte dos meus conterrâneos não tem a menor ideia das
prerrogativas dos seus colegas aí do governo e, por isso, acabam por ter
violados direitos que nem sabem que possuem. Ora, eu também não conheço todos
os meus direitos, mas acredito que eles foram redigidos com base naquelas
necessidades básicas, às quais me referi há pouco.Minhas necessidades básicas
se manifestaram antes mesmo de eu nascer, isso é óbvio, mas uma delas apareceu
quando eu tinha três anos de idade: a escola. Percebi então que todo o resto
servia para que eu obtivesse sucesso na escola. Afinal, sem teto, sem banho,
sem roupas, sem calçado, sem me alimentar e sem escovar meus dentes, eu não
teria o mesmo rendimento na sala de aula e teria dificuldades para aprender.Com
essa pequena análise, concluí, que não havia nada mais importante do
que a escola, já que sem ela não haveria a possibilidade de eu obter aquelas
outras necessidades, uma vez que não sou de origem abastarda e assim não deverei herdar nenhuma herança. Não sei o quanto estou errada, ou o quanto estou certa,
mas na sinceridade do meu coração, acredito até hoje nesta premissa: a educação
é o que existe de mais importante para o sucesso do maior objetivo do ser
humano, que é a busca pela felicidade.Pode ser muita ingenuidade minha, mas
creio que a educação vem antes de toda e qualquer outra necessidade e deve
estar sempre no topo da lista quando se fala em gastar dinheiro. Talvez se eu
explicar como cheguei a essa conclusão, faça sentido para os mais entendidos e
eles possam me esclarecer. Se todas as minhas necessidades básicas servem para
que eu vá bem na escola, é porque tem alguma coisa lá que vale a pena ficar
sentada em uma cadeira ergonométricamente desfavorável por um longo tempo – com um tempo mínimo de intevalo, pra
descansar, comer um salgadinho ou correr. Deve ter algo que eu
possa aprender e contar com entusiasmo para os meus pais. Sem escola, a
criança não tem condições de chegar à vida adulta com chances de entrar em uma
universidade pública, para se tornar um profissional alguns anos depois, muito embora hoje saibamos das diversas oportunidades que o seu governo tem oferecido aos menos favorecidos. Contudo, aí nessa frase me surge outro questionamento, porque oferecer de forma diferenciada oportunidade para alguns se o vosso governo prima pela igualdade???? Bem, mas não é esse o ponto central. Continuando.....E qual é o profissional que ensina às crianças? Pelo o que ainda sei, é o professor. Portanto, Vossa Excelência,
na opinião desta cidadã, preocupada com seu próprio futuro, o professor deve
ser o foco de seu governo. De todos os governos, hoje e sempre. Deveria ser
lei, muito embora não fosse garantiade cumprimento. O professor universitário vai capacitar o professor do ensino fundamental e
médio. O professor universitário vai transformar o garoto em engenheiro. O
professor universitário vai ensinar aquele aluno timido a ser um neurocirurgião
pioneiro… E talvez um dia, o professor universitário possa vir a formar políticos
que trabalhem para nós, não para si mesmos. Sendo assim, Vossa Excelência, eu acredito
que, para que a linda promessa do slogan de seu governo – “País rico é um país
sem pobreza” – seja verdadeira, Vossa Excelência deve olhar com muito carinho
ao que está acontecendo com os professores que estão sob sua responsabilidade.
Precisamos ser ouvidos, pois estamos na linha de frente, independente do nível, somos os atuais soldados na luta para que a
educação brasileira saia do abandono em que se encontra. O salário do professor
é o que merece ser o mais alto, pois ele passa a vida estudando em prol da educação. O político, no entanto, pode ter diversas
origens e nenhuma delas incluir formação superior, mas seu salário é o maior.
Esta cidadã acredita que o salário do político deveria ser o menor, não o
maior. É este o pedido que faço nesta carta: por favor, nós professores pedimos
socorro. Ouça-nos. É necessário que haja uma reorganização do sistema
educacional brasileiro e URGENTE. Aqui, quero deixar claro que não é apenas o
salário, mas a valorização da classe de professores se faz necessário, pois os
cursos de licenciatura estão cada vez mais vazios.
Adaptado: http://cartadilmarousseff.wordpress.com/
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