NÍVEL DE ENSINO
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DESAFIOS
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AVANÇOS
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CONTRADIÇÕES
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Educação Infantil
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- Enfrenta-se hoje o desafio de ampliar as políticas para a educação
das crianças de zero a cinco anos, de refletir
sobre as diferentes formas de viver a infância (indígenas,
quilombolas, ribeirinhas, urbanas, do campo, da
floresta) e de definir as bases curriculares nacionais para essa
fase da vida escolar que passou a ser parte da
educação básica.
- Projetos pedagógicos específicos para essa etapa são necessários,
bem como a redefinição do
trabalho docente para atuar em creches e pré-escolas, considerando
as três funções indissociáveis da Educação
Infantil:
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Função social
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Função política
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Função pedagógica
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No ano de 2009, visa ndo a discussão dessa questão, elaborou-se um
instrumento de autoavaliação intitulado “Indicadores de Qualidade da Educação
Infantil”. O objetivo do documento foi traduzir e detalhar os parâmetros
publicados em 2006 em indicadores operacionais, no sentido de oferecer às
equipes de educadores e às comunidades atendidas pelas instituições de
Educação Infantil um instrumento adicional de apoio ao seu trabalho. Essa
iniciativa pretendeu contribuir com as instituições de Educação Infantil no
sentido de encontrar seu próprio caminho na direção de práticas educativas
que respeitem os direitos fundamentais das crianças e ajudem a construir uma
sociedade mais democrática.
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Dado que as características da faixa etária das crianças da Educação
Infantil exigem conceber um outro tipo de estabelecimento educacional, é
preciso também que a gestão da instituição se baseie numa revisão de conceitos
sobre o que é a escola, a infância, o conhecimento e o currículo! O currículo
na Educação Infantil é aquilo que se constrói no diálogo entre crianças,
famílias e docentes e se manifesta em todas as interações do dia a dia. O
documento, que objetiva pensar as práticas na Educação Infantil (MEC/SEB,
2009b), afirma que os campos de aprendizagem dessas crianças são as práticas
sociais e as linguagens, expressos em inter-relação com o cotidiano. Nesse
contexto, deve-se repensar o currículo compreendendo os elementos
constituintes das práticas na Educação Infantil.
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Ensino Fundamental
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A ampliação do Ensino fundamental para nove anos. Seu objetivo é que
todas as crianças de seis anos, sem distinção de classe, sejam matriculadas
na escola. Contudo, inserir crianças de seis anos
no ensino fundamental, evidentemente, não garante por si só uma aprendizagem
de
maior qualidade. Isso depende, sobretudo, de um uso mais
eficaz do tempo, baseado na organização
qualitativa do trabalho pedagógico e
dando atenção às características etárias, sociais e psicológicas das
crianças.
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Como assegurar a transição da Educação Infantil para o Ensino
Fundamental? Essa passagem deve ocorrer da forma mais natural possível, não
provocando nas crianças rupturas e impactos negativos no seu processo de
escolarização. Dessa maneira, as escolas que estiverem organizadas
pela estrutura seriada não podem acrescentar mais uma série, com as
características e a natureza daquela que era a primeira série. Os seus
projetos político pedagógicos devem ser propostos no sentido de permitir a
flexibilização dos tempos, a fim de contribuir para o desenvolvimento da
criança, possibilitando-lhe, efetivamente, uma ampliação qualitativa do seu
tempo na escola.
Trabalhar com as crianças de seis anos na escola envolve compreender
o fato de que elas vivem numa sociedade
cuja cultura dominante é a letrada. Desde que nascem, as crianças
constroem conhecimentos prévios sobre o sistema de representação e o
significado da leitura e da escrita que se transformam em valorização social
da
aquisição de habilidades de ler e escrever. No entanto, a entrada na
escola para essas crianças não pode
representar uma ruptura completa com o estágio de vivência anterior,
em casa ou na instituição de Educação
Infantil, mas é preciso ser uma continuidade das suas experiências
anteriores para que sistematizem
gradualmente os conhecimentos sobre a língua
escrita.
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A escola deve elaborar estratégias de formação continuada dos
professores que atuam no Ensino
Fundamental para que sejam encontradas novas ações pedagógicas,
sendo indispensável o desenvolvimento de atitudes investigativas, de
alternativas pedagógicas e metodológicas na busca de uma qualidade social da
educação.
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Ensino Médio Integrado (EMIEP)
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- Um grande desafio para o Ensino Médio continuou sendo
a dualidade entre o propedêutico e o profissionalizante. A busca de um modelo unitário,
que integrasse os conceitos de trabalho, ciência e cultura como conceitos que
estruturam as finalidades do Ensino Médio e orientam a sua organização curricular
e as práticas pedagógicas do seu processo formativo, mais uma vez foi adiada
e depende ainda hoje de experiências que possibilitem tal
organização.
- Eixos da organização do currículo dos cursos de EMIEP: o trabalho,
a ciência e a cultura. Esta organização curricular é em dúvida um dos grandes
desafios educacionais para o Século XXI.
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A mobilização dos educadores, no entanto, e uma maior
sensibilidade governamental, permitiu um passo
importante para a superação da dualidade. A nova legislação indicou três formas de articulação entre a
educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio: a integrada, a
concomitante e a subseqüente.
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O EMIEP é um curso planejado que conduz, simultaneamente, a um
diploma e a um certificado com base em uma
única matriz curricular, uma única matrícula por aluno, e uma carga
horária que pretende assegurar o cumprimento das duas finalidades – formação
geral e profissional. Para tanto, há convergência de objetivos do ensino
médio e do ensino técnico, buscando-se uma sólida e atualizada formação
científica, tecnológica, cultural e ética.
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Programa Ensino Médio Inovado
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No ano de 2009, o governo federal lançou um programa viabilizando
outras inovações para o currículo do ensino médio, de forma articulada aos
programas e ações já em desenvolvimento nos âmbitos federal e estadual. O
programa possui “linhas de ação” que envolvem diversos aspectos que permeiam
o contexto escolar, tais como: fortalecimento da gestão escolar e dos
sistemas; melhoria das condições de trabalho docente e sua formação
inicial e continuada; apoio às práticas docentes; desenvolvimento do
protagonismo juvenil e apoio ao aluno jovem e adulto trabalhador;
infra-estrutura física e recursos pedagógicos; elaboração de pesquisas
relativas ao ensino médio e à juventude, entre outros.
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A proposta do Programa Ensino Médio Inovador tem como objetivo a
melhoria da qualidade do ensino médio nas escolas públicas, buscando
principalmente desenvolver nos alunos a promoção da capacidade de pensar,
refletir, compreender e agir sobre as determinações da vida social e
produtiva, articulando trabalho, ciência e cultura na perspectiva da
emancipação humana, de forma igualitária a todos os cidadãos.
O programa propõe, além das orientações metodológicas estabelecidas
no seu interior, percursos formativos organizados pelas unidades escolares
envolvidas seguindo a legislação em vigor e as diretrizes curriculares dos
Estados. Permite a ampliação da carga horária, além da mínima anual de
oitocentas horas, distribuídas em duzentos dias letivos.
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Deve então o currículo do ensino médio ser modificado? Devem ser
acrescentados
componentes técnicos no
currículo do ensino médio?
Tais componentes podem existir, mas devem ser necessariamente
desenvolvidos de forma integrada aos diversos conhecimentos. Por isso mesmo
não é uma proposta fácil e precisa ser construída processualmente pelos sistemas
e instituições de ensino, visando a práticas curriculares e
pedagógicas que levem à formação plena do educando e possibilitem construções
intelectuais.
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terça-feira, 19 de agosto de 2014
Niveis de ensino, desafios,avanços e contradições
Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação, José Henrique Paim,
Fortaleza/CE,
11 de fevereiro de 2014
Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação,
José Henrique Paim,
É sabido que a educação pública brasileira está
muito a quem de uma educação de excelência, existe muitos fatos que poderiam
explicar essa atual conjuntura, dentre eles, poderíamos citar: a péssima
estrutura das nossas escolas públicas, a falta de formação continuada,
investimentos mal aplicados e as desvalorização do profissional da educação.
Mas, contudo ressalto que apesar do acesso as tecnologias estarem ao alcance de
nossas mãos, nossos professores não tem o tempo para estarem descobrindo e
aprendendo a usar novas tecnologias, por serem obrigados a trabalhar três
turnos para adquirirem um salário suficiente para uma vida razoável.Os novos
paradigmas tecnológicos, com a informatização veloz e quase generalizada da
sociedade já se encontram presente em todo o mundo e, mesmo em países como o
Brasil, onde as desigualdades sociais e regionais são muito grandes, ele é
determinante, principalmente em termos de mercado de trabalho nos grandes
centros urbanos. Muitos países até mesmo como o nosso, vivem contradições
profundas em seus sistemas sociais, pois ao mesmo tempo em que uns estão
inseridos plenamente no mercado de trabalho em determinadas e específicas áreas,
outros estão completamente imersos ao descaso e no esquecimento por parte dos
dirigentes do nosso país. Obviamente quando analisamos o sistema educacional, a
situação é categoricamente distinta. Esta separação entre o mundo das
tecnologias da comunicação com o mundo da educação é muito amplo, induzindo-nos
a pensar na quase existência de um empecilho. Está claro que necessitamos de
muito mais do que simplesmente aperfeiçoar o sistema educacional. O momento
exige uma intensa transformação estrutural deste sistema com maior articulação
com os sistemas de informação e comunicação. Neste contexto de mutações, somos
realmente obrigados a pensar e refletir mais sobre o nosso sistema educacional,
ainda centrado em velhos paradigmas, muitas vezes destacando apenas a formação
uma mão de obra sem qualificação. Passados muitos anos neste discurso e
continuamos a perceber a necessidade de um olhar mais atento nesta direção
elaborada sob forte crítica da comunidade, reforçando a necessidade de uma
concreta formação dos profissionais da educação, como sendo fundamental para a
transformação deste sistema. Não é mais admissível mais uma proposta dos
dirigentes da nação ser esquecida, pois mais do que nunca a formação continuada
dos formadores de mentalidade do país é essencial. O esquecimento nos faz
pensar que a desqualificação dos profissionais da educação foi e é um dos
mecanismos para manter-nos fracos e covardes formando outros cidadãos com os
mesmo pensamentos.Entretanto, a transformação do sistema educacional do nosso
país tem que passar antemão pela transformação do professor. Não podemos
continuar pensando em formar professores com teorias pedagógicas que se superam
a nossa realidade cotidiana, centradas em princípios incompatíveis com o nosso
currículo, programas, materiais didáticos, incluindo as tecnologias como:
softwares educacionais, vídeos educativos. Se continuarem adotando esta
perspectiva é desconhecer completamente as transformações que estamos vivendo
no mundo contemporâneo e os novos elementos que estão fazendo parte da
realidade de nossos jovens e adolescentes. Compreender os novos processos de
aquisição e construção do conhecimento é básico para tentarmos superar este
impasse. Esta compreensão, por outro lado, empurra-nos necessariamente para
considerar como fundamental a introdução das chamadas tecnologias da
comunicação e informação nos processos de ensino-aprendizagem. Uma escola,
conectada, interligada, integrada, articulada com o conjunto da rede, passa a
ser mais um elemento vital deste processo coletivo de produção de conhecimento.
Diante disso, esta passagem não corresponde apenas a um aperfeiçoamento do
sistema educacional. Ela exige uma transformação profunda, impondo,
conseqüentemente, a implantação de políticas educacionais coerentes com as transformações
da sociedade como um todo e não simplesmente articulados com uma perspectiva de
modernização do nosso sistema. Desde já conto com sua colaboração no
sentido de priorizar projetos governamentais, aos movimentos que relacionam as
políticas educacionais, culturais, científicas, tecnológicas e de comunicação.
Atenciosamente,
Edneide
Silva.
RESENHA: Politicas Educacionais e Gestão Pedagógica/Vera Maria Vidal Peroni / Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Politicas Educacionais e Gestão
Pedagógica
Edneide Maria Ferreira da Silva
Texto:
Políticas
públicas e gestão da educação
em
tempos de redefinição do papel do Estado
Autora:
Vera
Maria Vidal Peroni / Universidade Federal do Rio Grande do Sul
O artigo tem como foco
principal as políticas educacionais, sendo vistas em um dado momento do
capitalismo, em que está ocorrendo redefinições no papel do Estado e onde os
direitos à educação foram conquistados, mas há dificuldade para implementá-los.
Segundo,
Evaldo Vieira (1997) em nosso país as políticas sociais, percorreram três
momentos políticos no último século: “o primeiro período de controle da
política (que corresponde à ditadura de Getúlio Vargas e ao populismo
nacionalista); o segundo período de política do controle (da ditadura militar
em 1964 até o final do período constituinte em 1988)” e o terceiro período,
denominado, pelo autor, de “política social sem direitos sociais”, iniciou-se
em 1988 e está em plena vigência. A política social que, por um lado, nunca
havia recebido tanto acolhimento por parte de uma constituição no Brasil, como
ocorreu na de 1988, por outro, simplesmente não viu esses direitos praticados e
nem mesmo regulamentados (quando exigiam regulamentação). Ao entender que a
política educacional é parte da redefinição do papel do Estado, não a
entendemos com uma relação de determinação, mas como partes de um mesmo
movimento deste período particular do capitalismo. Portanto, a primeira parte
do texto trata das mudanças que ocorreram no contexto macro-social, ressaltando
principalmente as influências da Teoria Neoliberal e da Terceira Via para a
redefinição do papel do Estado no Brasil.
A
segunda parte discute a atual função social da educação e a política
educacional que, apesar de ter como objetivo o acesso de todos na escola, tenta
induzir a qualidade através da avaliação institucional, ao invés de construir
políticas educacionais que proporcionem a qualidade. Essa qualidade muitas
vezes entendida como a lógica de mercado no público, impactando principalmente
a gestão educacional. E o sistema público, impelido principalmente pelas
avaliações, a buscar um padrão externo de qualidade, acaba procurando a
parceria com instituições privadas, como é o caso do Instituto Ayrton Senna.
No
Brasil, a atual política social é parte do projeto de reforma do Estado que
tem, como diagnóstico aquele proposto pelo neoliberalismo, e partilhado pela
Terceira Via, de que não é o capitalismo que está em crise, mas o Estado. A
estratégia, portanto, é reformar o Estado e diminuir sua atuação para superar a
crise. O mercado é que deverá superar as falhas do Estado, e assim a lógica do
mercado deve prevalecer inclusive no Estado, para que ele possa ser mais
eficiente e produtivo. O Terceiro Setor é a estratégia proposta pela Terceira
Via, em substituição à proposta de privatização do Neoliberalismo. Com base em
autores como Mészàros (2002), Antunes (1999) e Harvey (1989), há quem defenda a
tese contrária de que a crise atual não se encontra no Estado, é uma crise
estrutural do capital. As estratégias de superação da crise como o
Neoliberalismo, a Globalização, a Reestruturação Produtiva e a Terceira Via é
que estão redefinindo o papel do Estado.
Dessa
forma, tendo como diagnóstico que a crise está no Estado, o governo Fernando
Henrique Cardoso propôs em 1995 o Projeto de Reforma do Estado apresentado pelo
MARE (Ministério da Administração e Reforma do Estado). De acordo com o
documento, a
reforma
do Estado deve ser entendida dentro do contexto da redefinição do papel do
Estado, que deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e
social pela via da produção de bens e serviços, para fortalecer-se na função de
promotor e regulador desse desenvolvimento (BRASIL, MARE,1995, p. 12).
O
documento aponta, ainda, que o Estado gerou distorções e ineficiências ao
tentar assumir funções diretas de execução, e, nesse sentido, “reformar o
Estado significa transferir para o setor privado as atividades que podem ser
controladas pelo mercado” (BRASIL, MARE, 1995, p.11). Portanto, o que
aparentemente seria uma proposta de Estado mínimo, configura-se como realidade
de Estado mínimo para as políticas sociais e de Estado máximo para o capital.
(Peroni, 2003).
As
estratégias de reforma do Estado no Brasil são: a privatização, a publicização
e a terceirização. Terceirização, conforme Bresser Pereira, é o processo de
transferência para o setor privado dos serviços auxiliares ou de apoio. A
publicização consiste “na transferência para o setor público não-estatal dos
serviços sociais e científicos que hoje o Estado presta” (PEREIRA, 1997, p. 7).
Publicização, no Plano, significa “transformar uma organização estatal em uma
organização de direito privado, pública, não-estatal” (PEREIRA, 1997, p. 8). As
políticas sociais foram consideradas serviços não-exclusivos do Estado e, assim
sendo, de propriedade pública não-estatal ou privada.
O papel
do Estado para com as políticas sociais é alterado, pois com este diagnóstico
duas são as prescrições: racionalizar recursos e esvaziar o poder das
instituições, já que instituições democráticas são permeáveis às pressões e
demandas da população, além de serem consideradas como improdutivas, pela
lógica de mercado. Assim, a responsabilidade pela execução das políticas
sociais deve ser repassada para a sociedade: para os neoliberais através da
privatização (mercado), e para a Terceira Via pelo público não-estatal (sem
fins lucrativos) (PERONI, 2006, p. 14).
Destaca-se, portanto, que o Plano de
Reforma do Estado no Brasil teve influências do neoliberalismo, tanto no
diagnóstico, de que a crise está no Estado, quanto na estratégia de
privatização que é parte do Plano, mas também sofreu influências da Terceira
Via, que é atual social-democracia e tanto o Presidente da época, quanto o
Ministro da Reforma do Estado, Bresser Pereira, além de filiados ao Partido da
Social-Democracia Brasileira (PSDB), eram intelectuais orgânicos da Terceira
Via.
Neste
redesenho, verificamos que o Estado se retira da execução e permanece com parte
do financiamento (propriedade pública não-estatal), mas também, o que permanece
sob a propriedade do Estado passa a ter a lógica de mercado na gestão
(quase-mercado).(PERONI, 2007, p.16 )
Apesar do governo eleito em 2002 e
reeleito em 2006 não ter filiação com a Terceira Via, como o anterior, não
revogou o Plano Diretor da reforma do estado e tem assumido tanto as
estratégias de público não estatal quanto do quase mercado.
Wood destaca que o conceito de
democracia em uma sociedade sob a hegemonia do capitalismo não pode ser visto em
abstrato, pois afinal: “É o capitalismo que torna possível uma forma de
democracia em que a igualdade formal de direitos políticos tem efeito mínimo
sobre as desigualdades ou sobre as relações de dominação e de exploração em
outras esferas” (WOOD, 2003, p. 193).
Verifica-se, mais uma vez, a separação
entre o econômico e o político e o esvaziamento da democracia. A correlação de
forças sociais se perde neste enorme consenso onde sociedade civil e Banco
Mundial parecem ter os mesmos interesses. Resta discutir: que sociedade civil?
Como se todos tivessem os mesmos interesses em uma sociedade capitalista, onde
as classes não foram superadas.
No Brasil, a formação do Estado
nacional liberal conviveu com o escravismo e o latifúndio, o que em si é uma
contradição, já que o capitalismo tem como base o trabalho assalariado e a
produtividade. Enquanto em outros países da América Latina, a população lutou
pela independência, pela República, no Brasil, apesar das reivindicações
sociais, as mudanças ocorreram através de pactos pelo alto, possibilitando aos
grupos mais conservadores permanecerem no poder.
O Estado nacional
independente foi liberal apenas nas suas bases formais, pois, na prática, foi
instrumento da dominação patrimonialista em nível político. Essa dificuldade de
o Estado romper com o passado determinou o que Florestan Fernandes chamou de
“Estado-amálgama”: “Por ser um amálgama, ele preencheu as funções mutuamente
exclusivas e inconsistentes a que devia fazer face, entendendo a organização
política e a ordem legal através e além do vazio histórico deixado pela
economia colonial, pelo mandonismo e pela anomia social” (FERNANDES, 1976, p.
68).
Outra característica
marcante da constituição do Estado brasileiro foi que as relações sociais de
exploração, historicamente, deram-se via coerção violenta, mas também via
“ideologia do favor” de forma dissimulada e manipuladora.
Essas marcas da
história são parte constitutiva das relações políticas que ainda hoje se
estabelecem no Brasil. Essa questão é fundamental ao analisar a política social
como um direito em contraposição à ideologia do favor arraigados na nossa
cultura política.
Os
anos 1980 foram marcados por um processo de abertura política depois de um
longo período de ditadura. Foi um momento de grande participação popular e de
organização da sociedade na luta pelos seus direitos. Nesse contexto, os eixos
principais dos movimentos sociais estavam vinculados à democracia, à gestão
democrática do Estado, participação da comunidade, enfim, parte do movimento de
luta por uma sociedade mais justa e igualitária e por direitos sociais.
Mas a construção da
democracia encontrou enormes obstáculos. O Brasil viveu um processo de abertura
pactuado com as forças da ditadura. E, quando estava avançando alguns passos na
participação popular e na luta por direitos sociais, sofreu o impacto das
estratégias do capital para superação de sua crise: neoliberalismo,
globalização e reestruturação produtiva, que já estavam em curso no resto do
mundo e vinham em sentido contrário a esse movimento.
O esvaziamento do
conteúdo da democracia e a separação entre o econômico e o político são
evidentes. Perdeu-se a discussão das políticas sociais como a materialização de
direitos sociais.
As lutas e conquistas
dos anos 1980, de direitos universais, deram lugar à naturalização do possível,
isto é, se um Estado “em crise” não pode executar políticas, repassa para a
sociedade civil, que vai focalizar nos mais pobres para evitar o caos social. O
Estado apenas repassa parte do financiamento, e avalia. O Estado passa a ter o
papel mais avaliador do que executor.
A questão passa a ser
todos na escola com qualidade, mas que qualidade? Essa indagação remete ao
debate acerca da função social da escola neste período particular do
capitalismo, de tantas mudanças no contexto sócio político e econômico. O
debate diz respeito ao acesso não apenas à vaga na escola, mas ao conhecimento.
Vive-se em período de muita informação, com fácil acesso a notícias, via
internet, TVs, jornais, mas para entendê-las é necessário ter acesso à
linguagem específica de cada uma das áreas, aos conceitos; e ainda é preciso
abstrair, relacionar, para entender e poder posicionar-se frente ao mundo.
A própria
reestruturação produtiva exige um outro trabalhador, com capacidade de raciocinar,
resolver problemas, trabalhar em equipe, dar respostas muito rápidas, como visto
em relatórios como o SCAM 2000, que pensava como deveriam ser as escolas no ano
2000 nos EUA para dar respostas ao setor produtivo, ou o próprio relatório
Delors (UNESCO). Quer dizer, a função social da escola é proposta por alguns
organismos internacionais e pelo empresariado, que esperam que as escolas
apenas respondam ao setor produtivo, um retorno à teoria do capital humano.
Outros, como o Banco Mundial (1995), que evitem o caos social retirando as
crianças das ruas. E para a sociedade, qual é a função social da escola? A
resposta a esta pergunta dará pistas para responder à pergunta anterior sobre
que qualidade. Sem fazer essas perguntas, acaba-se analisando separadamente as
políticas educacionais atuais, como se tivessem um fim em si mesmas.
Nos itens seguintes, algumas
políticas são apresentadas , relacionando-as ao contexto atual.
Avaliação
Institucional
As políticas atuais
têm a avaliação como indutora da qualidade, naquela perspectiva de que o Estado
deve ser o avaliador, o coordenador e não mais o executor. Além disso, há
também o conteúdo da avaliação, quer dizer, o que vai ser avaliado importa já
que diz o que deverá ser ensinado, e remete à escola que se quer, e mais uma
vez à função social da escola hoje.
Quanto à avaliação
como indutora da qualidade, é uma total inversão ao objetivo proclamado das
avaliações institucionais, que deveriam ser diagnósticas, dando elementos para
a elaboração de políticas e, ao contrário, acaba por ser meritocrática,
culpabilizando as escolas e mais especificamente os professores pelo sucesso ou
fracasso escolar, como se o sistema público não fosse responsável pela rede de
escolas e sua qualidade.
Quanto ao que vai ser
avaliado, também tem uma relação direta com as redefinições do papel do Estado,
já que está intimamente vinculado à reestruturação produtiva, na discussão
sobre os standards ou o conteúdo da avaliação.
Outra questão
importante de materialização das redefinições do papel dos Estado nas políticas
de avaliação é a terceirização. Quem define o que será avaliado? Esta questão
foi analisada no texto: Perspectivas da gestão democrática da Educação:
avaliação institucional:
“O
processo de avaliação se iniciou, em parte, por determinação dos organismos
internacionais, que exigiam, nos seus projetos, a avaliação, mas também foi
influenciado por discussões sobre a qualidade do sistema educacional, a
democratização e a transparência na gestão; enfim, os eixos que caracterizamos
como sendo inerentes aos anos 80. O próprio Sistema de Avaliação da Educação
Básica (SAEB), no início, construía sua matriz com base nas discussões com os
estados, procedimento que foi interrompido com a terceirização, sendo que, a
partir de 1995, passaram a ser entidades de fora do Estado que definiam a
avaliação institucional, sem haver consultas ou debates com os setores
envolvidos no processo. Verificamos assim que, mais uma vez, nos anos 90, os
atores envolvidos no debate educacional foram silenciados. (PERONI, 2006b, p.
152)
Outra importante
questão, quando se discuti avaliação institucional, é: afinal, o que é feito
com os resultados? Luis Carlos Freitas, no Seminário organizado pela UNESP, USP
e UNICAMP, questionava: as avaliações, os indicadores que o Brasil dispõem, já
são suficientes para um ótimo diagnóstico da realidade educacional; a questão é
o que é feito com os resultados. Diagnosticado o problema, quais são as
políticas que estão sendo propostas para resolvê-los?
Educação para TODOS
Nos debates sobre a
qualidade da educação, a principal questão é pensar em uma educação de
qualidade para todos, o que é muito diferente de pensar em educação de
qualidade para alguns. A escola historicamente não atendeu a todos, o direito à
educação requer que se pense uma escola para os que historicamente estiveram
fora.
Neste sentido, pensar
a escola como no passado, quando não era para todos, pouco ou nada resolve, já
que a grande questão atual é como incorporar os que estiveram fora e como a
escola vai ser de qualidade para todos, já que ela foi pensada para aqueles que
tiveram estabilidade social, econômica e possibilidades culturais. A escola
para os sujeitos em vulnerabilidade social, com todos os seus problemas, passa
a ser o grande desafio. Expulsar o aluno da escola é o que historicamente foi
feito; assim, a questão é como não apenas ter acesso, mas permanecer e ter
acesso ao conhecimento a que tem direito. Várias experiências no Brasil e no
mundo têm trazido avanços nesta perspectiva, mas, na maioria dos casos, a
educação de qualidade para TODOS ainda está muito distante.
Público- privado na
educação
As redefinições do
papel do Estado também restabelecem as fronteiras entre o público e o privado,
principalmente através do público não estatal e do quase-mercado e o
esvaziamento da democracia, como direitos, materializada em políticas sociais
neste contexto.
Com o público não
estatal a propriedade é redefinida, deixa de ser estatal e passa a ser pública
de direito privado. Verificamos dois movimentos que concretizam a passagem da
execução das políticas sociais para o público não estatal: ou através do
público que passa a ser de direito privado ou o estado faz parcerias com
instituições do Terceiro Setor para a execução das políticas sociais.
Com o quase mercado a
propriedade permanece sendo estatal, mas a lógica de mercado é que orienta o
setor público. Principalmente por acreditar que o mercado é mais eficiente e
produtivo do que o Estado, como é a teoria neoliberal que embasa este pensamento.
Como afirma DALE são
muitas as dimensões da relação público privado:
o
que está envolvido não é tanto uma deslocação direta do público para o privado,
mas um conjunto muito mais complexo de mudanças nos mecanismos institucionais
através dos quais são regulados o que continuam a ser essencialmente sistemas
educativos estatais. (DALE, 1994, p. 112)
O repasse de dinheiro
público para o privado não é algo novo, mas que tem se transformado na própria
política pública, principalmente nos casos em que o governo apenas repassa
recursos para as ONGs, ou instituições privadas executarem as políticas
sociais. O outro movimento a destacar é o conteúdo, isto é, a lógica privada no
público, como ocorre, por exemplo, no Programa Rede Vencer do Instituto Ayrton
Senna, que realiza parcerias com redes públicas de ensino e entre seus projetos
está um que monitora através do Sistema Instituto Ayrton Senna de Informação
(SIASI) determinando,
assim onde a escola deve melhorar e influenciando na gestão e currículo
escolares. Neste caso, as redes públicas não recebem investimentos do
Instituto, ao contrário pagam por este monitoramento. É também o caso de outros
Programas do Instituto, como as Classes de Aceleração e a Alfabetização, em que
os municípios pagam pelos Kits, e o pior é que têm a proposta pronta
passo a passo, determinando assim o currículo da escola pública. São dois
questionamentos: o Instituto vive principalmente de dinheiro das empresas que
deixam de pagar impostos e entrar nos 25% da educação e, além de perderem esse
dinheiro, os municípios pagam o material, e ainda envolvem toda a rede de
ensino público. Professores, coordenadores pedagógicos, diretores, quadros das
secretarias de educação, todos, enfim, passam a definir suas atividades em
função das determinações do Instituto, tanto na área de gestão, como na
pedagógica, redefinindo assim o espaço público e sua autonomia. (PERONI, 2006a)
Outro exemplo na educação, foi o
Programa Dinheiro Direto na Escola que instituiu a obrigatoriedade para o
recebimento dos recursos da criação de Unidades Executoras, de direito privado
nas escolas públicas.
Gestão democrática
Avançando nos estudos e pesquisas
sobre a necessidade de entender a gestão democrática como processo de
construção, o que implicaria em mudanças culturais profundas. Muito debatem
sobre entendê-la não apenas como um meio, mas também como um fim, já que a
participação em si é pedagógica e estratégica, pois só se pode participar,
participando. No entanto, atualmente a gestão democrática, que inclusive é princípio
constitucional, está, na prática, cada vez menos sendo construída. Muitas
vezes, o termo soa como algo que ficou no passado, quando, na realidade, estava
ainda dando seus primeiros passos, já que a gestão educacional historicamente
teve grande influência do patrimonialismo, da burocracia, e como parâmetro o
mercado. Assim, o novo, a ser construído, é a gestão democrática.
Muito a sociedade
lutou para garantir a gestão democrática como princípio constitucional, mas
implantá-la é um longo processo que requer diálogo e participação coletiva de
todos os envolvidos: pais, alunos, professores, direção colegiada, enfim, a
sociedade como um todo, já que os rumos da educação transcendem a um governo,
são decisões de Estado, em todas as suas instâncias – escola, conselhos de
educação, secretarias municipais e estaduais, Ministério da Educação.
A autonomia da
escola, a eleição de diretores, o conselho escolar, são alguns pilares que
materializam a gestão democrática, mas não são suficientes para mudar a
histórica cultura autoritária. É necessário políticas que ampliem as
possibilidades de democratização da educação. Pesquisas demonstram que não se
analisa gestão democrática em abstrato. Os indicadores têm são: o direito à
educação, isto é: ampliou-se o acesso, a permanência, o conhecimento? Melhorou
o financiamento da educação? A valorização do magistério? Quer dizer, para
analisarmos se um sistema educacional avançou na gestão democrática e na
qualidade da educação, analisamos as políticas educacionais propostas, além dos
índices quantitativos.
Enfim, a gestão
educacional é outra política que mudou muito com as redefinições do papel do
Estado, pois dado o diagnóstico neoliberal, partilhado pela Terceira Via, de
que o culpado pela crise é o Estado, e o mercado é sinônimo de eficiência, toda
a gestão pública passa a ter como referência a lógica empresarial.
Quer dizer que está
mais uma vez vinculada à qualidade, mas aqui no caso, uma qualidade que tem
como parâmetro o mercado. Volta a questão: que qualidade? Para quem? Executada
por quem? Quer dizer quem é o responsável?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante
ressaltar que o eixo das políticas educativas foi se redefinindo. No período de
abertura política era centrado principalmente na democratização da escola,
mediante a universalização do acesso, e a gestão democrática centrada na
formação do cidadão. Atualmente ocorre a mudança dessa centralidade,
passando-se a enfatizar a qualidade, entendida como produtividade. O eixo é a
busca de maior eficiência e eficácia via controle de qualidade, da
descentralização de responsabilidades, da terceirização de serviços e da
autonomia da escola.
Os anos 1980 foram
marcados por um processo de abertura política depois de um longo período de
ditadura. Foi um momento de grande participação popular e de organização da
sociedade na luta pelos seus direitos. Nesse contexto, os eixos principais dos
movimentos sociais estavam vinculados à democracia, à gestão democrática do
Estado, participação da comunidade, enfim, parte do movimento de luta por uma
sociedade mais justa e igualitária e por direitos sociais.
Como parte deste
movimento, houve avanços na luta pelo direito à educação, entendido não apenas
como acesso à escola, mas ao conhecimento e a uma maior participação nas
definições educacionais. A gestão democrática passa a ser parte integrante da
luta por educação de qualidade. Mas a construção da democracia encontrou
enormes obstáculos. O Brasil viveu um processo de abertura pactuado com as
forças da ditadura. E, quando estava avançando alguns passos na participação
popular e na luta por direitos sociais, sofreu o impacto das estratégias do
capital para superação de sua crise: neoliberalismo, globalização e
reestruturação produtiva, que já estavam em curso no resto do mundo e vinham em
sentido contrário a esse movimento.(PERONI, 2007).
As lutas e conquistas
dos anos 1980, de direitos universais, deram lugar à naturalização do possível,
isto é, se um Estado “em crise” não deve executar políticas sociais, repassa
para a sociedade civil, que vai focalizar nos mais pobres para evitar o caos
social. O Estado apenas repassa parte do financiamento, e avalia.
E, essas redefinições
do papel do Estado restabelecem as fronteiras entre o público e o privado,
principalmente através do público não estatal e do quase-mercado e o
esvaziamento da democracia, como direitos, materializada em políticas sociais.
No Brasil, não temos
um histórico democrático e de participação efetiva da sociedade na luta por
direitos sociais, materializados em políticas públicas. No período de abertura
política, a sociedade começou a dar os primeiros passos nesse sentido. Mas, no
resto do mundo, a democracia e a participação eram questionadas como as
responsáveis pela crise do Estado, já que para atender às demandas dos grupos
organizados o Estado teria investido em políticas sociais, gastado demais e
gerado a crise fiscal e a inflação, a democracia passa a ser combatida não mais
por uma ditadura, mas no plano político e ideológico, e com a ajuda dos meios
de comunicação, passa-se a relacionar a luta por direitos como atos contra a
nação. Os culpados pela crise seriam os funcionários públicos e o investimento
nas políticas sociais. (PERONI, 2008).
Tem ainda a
influência da Terceira Via, que não vê a democracia como inimiga, mas como
instrumental à retirada do Estado das políticas sociais. Apela-se para a
subjetividade das pessoas através da ajuda mútua, da solidariedade, da
filantropia, enquanto o dinheiro público dos impostos é deslocado para a esfera
financeira.
Assim, o processo
democrático dá-se como parte da correlação de forças políticas. Portanto, a
questão central não pode ser sociedade civil X Estado, pois assim está se
deslocando o eixo central que é a correlação de forças por projetos de
sociedade, para perpetuar a sociedade do capital ou superá-la. Assim como não
acreditamos em sociedade civil em abstrato, também não é possível crer que
apenas ficando na esfera do Estado o interesse público esteja garantido, pelo
menos não em uma sociedade hegemonizada pelo capital. Os interesses de classes
perpassam sociedade civil e Estado. Portanto, urge localizar o debate em um
contexto próprio onde o Estado se retira das políticas sociais e repassa para a
sociedade, ocorrendo perdas de direitos.
Mais especificamente
na política educacional, ao mesmo tempo em que se avança na luta por uma
educação para todos, o Estado passa de executor a apenas o avaliador e indutor
da qualidade através da avaliação. A gestão democrática passa a dar lugar para
a gestão empresarial, já que o mercado é parâmetro de qualidade.
A
grande questão atual é a função social da escola neste período particular do
capitalismo de tantas mudanças. O capital sabe muito bem que escola quer, e os
que querem superá-lo, devem começar a ser mais propositivos depois de décadas
na defensiva.
Carta a Excelentíssima Presidente da República, Dilma Rousseff
Meu nome é Edneide Silva, tenho
37 anos e, contrariando as minhas próprias expectativas com relação às pessoas
com nomes incomuns, não sou rica, não possuo casa própria, pois ainda moro com
minha Mãe e tenho um filho de 18 anos. Essa carta tem o propósito de aliviar a
angústia que venho sentindo desde que comecei a perceber o mundo à minha volta
e, já que Vossa Excelência é a autoridade máxima do país, eleita pela maioria
dos eleitores,e novamente candidata no pleito desse ano, achei por bem que seria Vossa Excelência a
destinatária certa para esta mensagem. E, ao escrever, talvez eu seja capaz de
amainar a tristeza que sinto quando olho para o estado em que meu país se
encontra, principalmente no tocante à Educação. Ah, como pode, já ia
esquecendo, não por vergonha, mas talvez pelo fato de ser a minha primeira
carta endereçada a pessoa que ocupa cargo público de tanta responsabilidade,
SOU PROFESSORA. Me formei no ano 2000, mas desde 1998 trabalho em escolas
públicas e privadas. De lá pra cá muita coisa mudou, muita coisa mesmo, mas há
de se convir que há ainda muito mais que se mudar e creia, deve ser pra melhor.
Estou concluindo a terceira pós-graduação, mas somente a 3 anos e 10 meses
consegui me efetivar na rede pública estadual de ensino do Estado do Ceará. Até
então, trabalhei por contrato temporário tanto na Prefeitura de Fortaleza como
no Estado. Um fato que seria curioso se não fosse catastrófico, foi que em 2
anos que passei como professora substituta de Ciências na Prefeitura, nunca
consegui vaga para lecionar essa disciplina, tendo por isso que trabalhar com
Literatura, Inglês e Matemática. Sempre que me dirigia a uma Secretaria
Executiva Regional, a resposta era que não havia carência na área. O que me
levou a concluir o tempo de contrato sem nunca ter ministrado nenhuma aula de
Ciências. Outro fato que gostaria de mencionar é que estou prestes a concluir
uma especialização em Coordenação Escolar, pela Universidade Aberta do Brasil
em parceria com a Universidade Federal do Ceará, e que foi durante esse curso
que muitos questionamentos surgiram sobre a atual situação educacional em nosso
país.Sinceramente, não entendo muito de política, nem de economia, muito menos
de como governar. A senhora, no entanto, provavelmente já estava na política
antes mesmo de eu nascer. Por isso, como cidadã de um país que, apesar de
velho, ainda engatinha, recorro à Vossa Excelência em algumas dúvidas que
ninguém foi capaz de esclarecer até hoje. Talvez pela minha ignorância eu
esteja equivocada e precise somente de explicações. Talvez não seja sua culpa,
mas atualmente a senhora é a pessoa que me representa, e a todos os
brasileiros. Desde os seus entes queridos, até os meus entes
queridos, a senhora possui a grande responsabilidade de cuidar do nosso
bem-estar.A responsabilidade de cuidar de quase 200 milhões de pessoas é muito
maior do que, confesso, eu conseguiria carregar e, sinceramente, não sei de
onde as pessoas obtêm forças para executar tarefa de tamanho peso. Porém, como
brasileira, acredito que, por menos informada que seja a minha opinião, de
acordo com algum grande livro – que talvez seja a Constituição ou o Código
Civil, não sei – eu viva em um país democrático, onde todo cidadão tem o
direito de ser ouvido, por mais humilde e desprovido de educação que seja.Como
ser humano, como cidadão, como seu irmão, Vossa Excelência, observo que a maior
parte de nossa população possui necessidades básicas negligenciadas. Na
Constituição está determinado que todo cidadão tem direito à Educação de
qualidade, mas não consigo visualizar essa Lei sendo fielmente cumprida. Ou
serei eu quem não entende o significa EDUCAÇÃO DE QUALIDADE. A maior parte da
população do nosso país precisa de um teto para morar embaixo, precisa de se
alimentar, escovar os dentes depois de se alimentar, precisa de sapatos,
roupas… remédios. Vossa Excelência também precisa dessas coisas, não? Tudo isso
é responsabilidade de Vossa Excelência e de sua equipe, não é? Ressalto
novamente que não sou cientista político e devo confessar que sempre deixei
essa área da minha vida no piloto automático. Admito que isso é um pecado
contra a democracia e que todos os brasileiros, por pior que sejam suas
condições, devem se levantar da poltrona confortável do comodismo e começar a
cobrar atitudes daqueles que pediram nossos votos e os conquistaram. Acredito,
inclusive, que a maior parte dos meus conterrâneos não tem a menor ideia das
prerrogativas dos seus colegas aí do governo e, por isso, acabam por ter
violados direitos que nem sabem que possuem. Ora, eu também não conheço todos
os meus direitos, mas acredito que eles foram redigidos com base naquelas
necessidades básicas, às quais me referi há pouco.Minhas necessidades básicas
se manifestaram antes mesmo de eu nascer, isso é óbvio, mas uma delas apareceu
quando eu tinha três anos de idade: a escola. Percebi então que todo o resto
servia para que eu obtivesse sucesso na escola. Afinal, sem teto, sem banho,
sem roupas, sem calçado, sem me alimentar e sem escovar meus dentes, eu não
teria o mesmo rendimento na sala de aula e teria dificuldades para aprender.Com
essa pequena análise, concluí, que não havia nada mais importante do
que a escola, já que sem ela não haveria a possibilidade de eu obter aquelas
outras necessidades, uma vez que não sou de origem abastarda e assim não deverei herdar nenhuma herança. Não sei o quanto estou errada, ou o quanto estou certa,
mas na sinceridade do meu coração, acredito até hoje nesta premissa: a educação
é o que existe de mais importante para o sucesso do maior objetivo do ser
humano, que é a busca pela felicidade.Pode ser muita ingenuidade minha, mas
creio que a educação vem antes de toda e qualquer outra necessidade e deve
estar sempre no topo da lista quando se fala em gastar dinheiro. Talvez se eu
explicar como cheguei a essa conclusão, faça sentido para os mais entendidos e
eles possam me esclarecer. Se todas as minhas necessidades básicas servem para
que eu vá bem na escola, é porque tem alguma coisa lá que vale a pena ficar
sentada em uma cadeira ergonométricamente desfavorável por um longo tempo – com um tempo mínimo de intevalo, pra
descansar, comer um salgadinho ou correr. Deve ter algo que eu
possa aprender e contar com entusiasmo para os meus pais. Sem escola, a
criança não tem condições de chegar à vida adulta com chances de entrar em uma
universidade pública, para se tornar um profissional alguns anos depois, muito embora hoje saibamos das diversas oportunidades que o seu governo tem oferecido aos menos favorecidos. Contudo, aí nessa frase me surge outro questionamento, porque oferecer de forma diferenciada oportunidade para alguns se o vosso governo prima pela igualdade???? Bem, mas não é esse o ponto central. Continuando.....E qual é o profissional que ensina às crianças? Pelo o que ainda sei, é o professor. Portanto, Vossa Excelência,
na opinião desta cidadã, preocupada com seu próprio futuro, o professor deve
ser o foco de seu governo. De todos os governos, hoje e sempre. Deveria ser
lei, muito embora não fosse garantiade cumprimento. O professor universitário vai capacitar o professor do ensino fundamental e
médio. O professor universitário vai transformar o garoto em engenheiro. O
professor universitário vai ensinar aquele aluno timido a ser um neurocirurgião
pioneiro… E talvez um dia, o professor universitário possa vir a formar políticos
que trabalhem para nós, não para si mesmos. Sendo assim, Vossa Excelência, eu acredito
que, para que a linda promessa do slogan de seu governo – “País rico é um país
sem pobreza” – seja verdadeira, Vossa Excelência deve olhar com muito carinho
ao que está acontecendo com os professores que estão sob sua responsabilidade.
Precisamos ser ouvidos, pois estamos na linha de frente, independente do nível, somos os atuais soldados na luta para que a
educação brasileira saia do abandono em que se encontra. O salário do professor
é o que merece ser o mais alto, pois ele passa a vida estudando em prol da educação. O político, no entanto, pode ter diversas
origens e nenhuma delas incluir formação superior, mas seu salário é o maior.
Esta cidadã acredita que o salário do político deveria ser o menor, não o
maior. É este o pedido que faço nesta carta: por favor, nós professores pedimos
socorro. Ouça-nos. É necessário que haja uma reorganização do sistema
educacional brasileiro e URGENTE. Aqui, quero deixar claro que não é apenas o
salário, mas a valorização da classe de professores se faz necessário, pois os
cursos de licenciatura estão cada vez mais vazios.
Adaptado: http://cartadilmarousseff.wordpress.com/
Manifestação da SBQ em resposta à coluna de Denise Fraga da Folha de São Paulo
Acesso: 19/08/2014 as 09:15h
A
Sociedade Brasileira de Química (SBQ), por meio de sua Diretoria e Conselho,
manifesta-se em resposta à coluna de Denise Fraga, da Folha de São Paulo, do dia
3/8/2014, intitulada "Química, pra que te quero?", com o objetivo de esclarecer
os leitores da Folha e contribuir, como sempre tem feito, para melhorar a
educação no Brasil.
Como ponto central está o porquê de se ensinar Química nas escolas. Estudantes devem ser introduzidos às Ciências, como a Química, e ao método científico o mais cedo possível. Isso lhes dá uma compreensão de fatos fundamentais para se tornarem cidadãos capazes de compreenderem o mundo ao seu redor. A Química não interessa apenas aos que amam esta Ciência: ela nos acompanha em cada momento e lugar de nossas vidas, desde o nascer até o pôr do sol, desde o sabonete e a pasta de dentes até as roupas, o analgésico e o automóvel. Crianças e adolescentes aprendem Química para se tornarem cidadãos capazes de tomarem decisões informadas. Eliminar o ensino de Química os torna presas fáceis de exploradores de todos os tipos, o que infelizmente presenciamos a cada dia no comportamento dos que decidiram ignorar as ciências.
O texto de Denise Fraga tem uma única virtude, que é ilustrar (mais uma vez) a péssima qualidade do ensino no Brasil, principalmente nas escolas públicas, tão carentes de infraestrutura e de professores mais bem preparados para a arte de ensinar.
A Sociedade Brasileira de Química tem trabalhado incansavelmente, desde a sua fundação, em 1977, para o desenvolvimento e fortalecimento da Química em todos os seus aspectos. Em um episódio recente, tivemos mais de um milhão de jovens brasileiros participando de um experimento sobre a qualidade da água dos rios e mananciais, com manifestações emocionantes de estudantes e de professores aplicados. Temos uma revista para professores e um site com materiais para estudantes e professores, com centenas de milhares de acessos a cada ano. Infelizmente, ainda é muito menos que o necessário mas contamos que esta coluna de Denise Fraga contribuirá para que cada vez mais pessoas se empenhem pelo ensino e aprendizagem da Química, para o bem de todos.
Adriano Andricopulo
Presidente da SBQ
Como ponto central está o porquê de se ensinar Química nas escolas. Estudantes devem ser introduzidos às Ciências, como a Química, e ao método científico o mais cedo possível. Isso lhes dá uma compreensão de fatos fundamentais para se tornarem cidadãos capazes de compreenderem o mundo ao seu redor. A Química não interessa apenas aos que amam esta Ciência: ela nos acompanha em cada momento e lugar de nossas vidas, desde o nascer até o pôr do sol, desde o sabonete e a pasta de dentes até as roupas, o analgésico e o automóvel. Crianças e adolescentes aprendem Química para se tornarem cidadãos capazes de tomarem decisões informadas. Eliminar o ensino de Química os torna presas fáceis de exploradores de todos os tipos, o que infelizmente presenciamos a cada dia no comportamento dos que decidiram ignorar as ciências.
O texto de Denise Fraga tem uma única virtude, que é ilustrar (mais uma vez) a péssima qualidade do ensino no Brasil, principalmente nas escolas públicas, tão carentes de infraestrutura e de professores mais bem preparados para a arte de ensinar.
A Sociedade Brasileira de Química tem trabalhado incansavelmente, desde a sua fundação, em 1977, para o desenvolvimento e fortalecimento da Química em todos os seus aspectos. Em um episódio recente, tivemos mais de um milhão de jovens brasileiros participando de um experimento sobre a qualidade da água dos rios e mananciais, com manifestações emocionantes de estudantes e de professores aplicados. Temos uma revista para professores e um site com materiais para estudantes e professores, com centenas de milhares de acessos a cada ano. Infelizmente, ainda é muito menos que o necessário mas contamos que esta coluna de Denise Fraga contribuirá para que cada vez mais pessoas se empenhem pelo ensino e aprendizagem da Química, para o bem de todos.
Adriano Andricopulo
Presidente da SBQ
Alguns posicionamentos sobre o que disse a atriz Denise Fraga.....
Acesso: 19/08/2014 as 09:10h
Denise
Fraga, eliminar a Química do currículo é mesmo a solução? Não seria
precipitado?*
A atriz da Rede Globo de Televisão Denise Rodrigues Fraga Villaça
escreveu um artigo na Folha de São Paulo reclamando do conteudismo escolar
pegando a Química pra cristo (e sobrando até pra biologia): [cuidado, paywall
poroso!] "Química, pra que
te quero?".
Arrisquei-me a discutir algo similar (com conclusão virtualmente oposta), mas em um contexto de educação *informal*, não na escola. Não me sinto muito confortável discutindo políticas educacionais. Não tenho formação na área, não cursei a Escola de Teatro Martins Pena.
Assim, não irei discutir tanto sobre como a educação deve ser e o que deve ser ensinado, quanto apontar inconsistências nas críticas da atriz e convidar para um outro olhar.
-----------
No primeiro parágrafo a atriz faz a provocação: "Que me perdoem os químicos, mas alguém poderia me dizer por que ainda se estuda química nas escolas?" Curiosamente, ela mesmoa dá uma resposta logo em seguida: "É uma linda ciência e
concordo que deveríamos ter ao menos um ano de estudo da matéria para entender
a composição das coisas que juntas e inter-relacionadas compõem o Universo."
A bem dizer, a Física dos Elétrons de Valência - aka Química - trata só da matéria comum: átomos formados por um núcleo de prótons e nêutrons orbitados
por elétrons ou na forma de plasma - que compõe menos de 5% do Universo
(uns 70% são formados por energia escura e uns 25% por matéria escura). Mas no
nosso dia a dia está ostensiva e fundamentalmente presente. Dá mesmo para abrir
mão disso? Quando há campanhas contra aditivos químicos nos alimentos vamos
confiar apenas no que nos dizem ou usaremos nossos instintos para saber quem
tem ou não razão? E sobre o uso e controle de agrotóxicos? Medidas de combate à
poluição atmosférica, das águas e do solo? A sua resposta é: "O acesso
à informação anda no nosso bolso a um clique de nossos dedos e mesmo assim
precisamos decorar os nomes do aparelho reprodutor dos platelmintos?/Podemos
saber de tudo navegando por aí. Tanto pra aprender! E quem nos ensina a
escolher o que queremos saber?". Bem, há mais de um aspecto que
precisamos levar em conta:
1) Por enquanto, pouco mais de 100 milhões de pessoas têm acesso à internet. Cerca de metade dos brasileiros *não* tem acesso à informação "a um clique".
2) É preciso ter uma certa habilidade para pesquisar na internet: saber os termos para pesquisar e filtrar os resultados. Seria interessante que se ensinasse a nossos filhos nas escolas, ao menos assim me parece. Mas isso substitui as aulas de química e de biologia? Como pesquisar sobre aparelho reprodutor de platelmintos se você não sabe o que significa "aparelho reprodutor" e nem sabe que platelmintos existem? A pesquisa tende a se tornar ineficiente e há grandesos riscos de ir parar em uma página
pouco confiável.
3) Talvez a maturidade a respeito da escolha do que queremos saber passe por ter um bom conhecimento básico e que seja amplamente partilhado. Algum aluno pode se interessar por saber mais como a pesquisa por melhores corantes de tecidos levou ao desenvolvimento da indústria da química fina, que, entre outras coisas, permitiu o desenvolvimento de novos medicamentos. Mas como ele iria saber que se interessa por isso sem nem saber sobre química? Como teremos alunos inclinados a serem químicos, bioquímicos, engenheiros químicos, petroquímicos, técnicos diversos (como aqueles essenciais que fazem testes de segurança de um sem número de compostos que você e todo mundo usa: de cosméticos a alimentos e medicamentos -?) sem que eles saibam o que é química?
4) Decorar o nome do aparelho reprodutor dos platelmintos - que, por acaso, tem o mesmo nome do nosso: "aparelho reprodutor" (sim, alguns órgãos têm nomes diferentes como o "poro genital"; outros, como "testículo", o mesmo) - é menos importante do que entender a diversidade de modos reprodutivos entre os seres vivos e como os padrões de similaridades e diferenças nos unem a todos. Sério, Denise Fraga, não faz sua cabeça explodir saber que somos relacionados por *parentesco* aos platelmintos? Saber que temos um ancestral em comum remoto com eles e outros ancestrais em comum - mais recentes ou mais antigos - com todos os demais seres vivos conhecidos até o momento? Saber que a despeito de tantas diferenças na aparência, platelmintos e nós, somos formados essencialmente do mesmo modo: a partir da fusão de células reprodutoras e posterior divisão celular e diferenciação das células resultantes?
Para a atriz, ensinar um jogo seria mais negócio: "Mas por que não optar por xadrez, por exemplo? Você já viu alguém jogar cadeias de carbono e hidrogênio com um amigo numa tarde chuvosa? Imagina que maravilha seria se todos nós fôssemos potenciais jogadores de xadrez formados pela escola?". Novamente, vários aspectos:
1) Há escolas que ensinam xadrez e outros jogos de tabuleiro e salão, além de práticas desportivas diversas (e até artes dramáticas). Mas não fazem isso *no lugar* da química. São atividades distintas, não concorrentes.
2) Imagina, então, se todos fôssemos pessoas que entendessem bem de química? Uma porção de dinheiro seria economizada fugindo-se de bobagens pseudocientíficas como homeopatia - com o bônus de melhora em nossa saúde. Não cometeríamos imprudências várias: como queimar a mão no gesso, ingerir metanol, cozinhar com ascarel, deixar de vacinar por causa do esqualeno, misturar água sanitária com amoníaco, provocar incêndio por largar pano com linhaça, etc., etc., etc.
3) Resistirei à tentação de maldar com a imagem de dois amigos lançando moléculas hidrocarbônicas um no outro (de compostos psicoativos a secreções biológicas); mas há vários jogos baseados na química - eu adorava os kits de químico mirim ou, em vez de decorar a tabela periódica, pode-se jogar com ela.
Provavelmente há necessidade na revisão da abordagem, já que nem você, nem seus filhos aprenderam adequadamente - não que eu saiba tudo o que se deva saber sobre química. Mas será que essa revisão é a simples eliminação da disciplina ou sua drástica redução a apenas um ano durante todos os 12 anos do ensino básico? Não poderia justamente ser uma melhora na ênfase da relevância do conhecimento químico? Da aproximação de tais conhecimentos com o nosso dia a dia? (Não são nenhuma abordagem revolucionária e estão presentes como parâmetros curriculares nacionais desde meados da década de 1990. Talvez o problema seja de sua efetiva implementação.)
*Uma das vantagens de ter uma cultura mínima em Química é entender a piada do título.
Arrisquei-me a discutir algo similar (com conclusão virtualmente oposta), mas em um contexto de educação *informal*, não na escola. Não me sinto muito confortável discutindo políticas educacionais. Não tenho formação na área, não cursei a Escola de Teatro Martins Pena.
Assim, não irei discutir tanto sobre como a educação deve ser e o que deve ser ensinado, quanto apontar inconsistências nas críticas da atriz e convidar para um outro olhar.
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No primeiro parágrafo a atriz faz a provocação: "Que me perdoem os químicos, mas alguém poderia me dizer por que ainda se estuda química nas escolas?" Curiosamente, ela mesm
A bem dizer, a Física dos Elétrons de Valência - aka Química - trata só da matéria comum: átomos formados por um núcleo de prótons e nêutrons orbitado
1) Por enquanto, pouco mais de 100 milhões de pessoas têm acesso à internet. Cerca de metade dos brasileiros *não* tem acesso à informação "a um clique".
2) É preciso ter uma certa habilidade para pesquisar na internet: saber os termos para pesquisar e filtrar os resultados. Seria interessante que se ensinasse a nossos filhos nas escolas, ao menos assim me parece. Mas isso substitui as aulas de química e de biologia? Como pesquisar sobre aparelho reprodutor de platelmintos se você não sabe o que significa "aparelho reprodutor" e nem sabe que platelmintos existem? A pesquisa tende a se tornar ineficiente e há grandes
3) Talvez a maturidade a respeito da escolha do que queremos saber passe por ter um bom conhecimento básico e que seja amplamente partilhado. Algum aluno pode se interessar por saber mais como a pesquisa por melhores corantes de tecidos levou ao desenvolvimento da indústria da química fina, que, entre outras coisas, permitiu o desenvolvimento de novos medicamentos. Mas como ele iria saber que se interessa por isso sem nem saber sobre química? Como teremos alunos inclinados a serem químicos, bioquímicos, engenheiros químicos, petroquímicos, técnicos diversos (como aqueles essenciais que fazem testes de segurança de um sem número de compostos que você e todo mundo usa: de cosméticos a alimentos e medicamentos -?) sem que eles saibam o que é química?
4) Decorar o nome do aparelho reprodutor dos platelmintos - que, por acaso, tem o mesmo nome do nosso: "aparelho reprodutor" (sim, alguns órgãos têm nomes diferentes como o "poro genital"; outros, como "testículo", o mesmo) - é menos importante do que entender a diversidade de modos reprodutivos entre os seres vivos e como os padrões de similaridades e diferenças nos unem a todos. Sério, Denise Fraga, não faz sua cabeça explodir saber que somos relacionados por *parentesco* aos platelmintos? Saber que temos um ancestral em comum remoto com eles e outros ancestrais em comum - mais recentes ou mais antigos - com todos os demais seres vivos conhecidos até o momento? Saber que a despeito de tantas diferenças na aparência, platelmintos e nós, somos formados essencialmente do mesmo modo: a partir da fusão de células reprodutoras e posterior divisão celular e diferenciação das células resultantes?
Para a atriz, ensinar um jogo seria mais negócio: "Mas por que não optar por xadrez, por exemplo? Você já viu alguém jogar cadeias de carbono e hidrogênio com um amigo numa tarde chuvosa? Imagina que maravilha seria se todos nós fôssemos potenciais jogadores de xadrez formados pela escola?". Novamente, vários aspectos:
1) Há escolas que ensinam xadrez e outros jogos de tabuleiro e salão, além de práticas desportivas diversas (e até artes dramáticas). Mas não fazem isso *no lugar* da química. São atividades distintas, não concorrentes.
2) Imagina, então, se todos fôssemos pessoas que entendessem bem de química? Uma porção de dinheiro seria economizada fugindo-se de bobagens pseudocientíficas como homeopatia - com o bônus de melhora em nossa saúde. Não cometeríamos imprudências várias: como queimar a mão no gesso, ingerir metanol, cozinhar com ascarel, deixar de vacinar por causa do esqualeno, misturar água sanitária com amoníaco, provocar incêndio por largar pano com linhaça, etc., etc., etc.
3) Resistirei à tentação de maldar com a imagem de dois amigos lançando moléculas hidrocarbônicas um no outro (de compostos psicoativos a secreções biológicas); mas há vários jogos baseados na química - eu adorava os kits de químico mirim ou, em vez de decorar a tabela periódica, pode-se jogar com ela.
Provavelmente há necessidade na revisão da abordagem, já que nem você, nem seus filhos aprenderam adequadamente - não que eu saiba tudo o que se deva saber sobre química. Mas será que essa revisão é a simples eliminação da disciplina ou sua drástica redução a apenas um ano durante todos os 12 anos do ensino básico? Não poderia justamente ser uma melhora na ênfase da relevância do conhecimento químico? Da aproximação de tais conhecimentos com o nosso dia a dia? (Não são nenhuma abordagem revolucionária e estão presentes como parâmetros curriculares nacionais desde meados da década de 1990. Talvez o problema seja de sua efetiva implementação.)
*Uma das vantagens de ter uma cultura mínima em Química é entender a piada do título.
PRA QUÊ SERVE A QUÍMICA???? Minimamente para que eu não seja uma ignorante!
Essa poderia ser uma boa resposta a atriz Denise Fraga, quando no último dia 03 escreveu em sua coluna na Folha de São Paulo sobre seu anseio por eliminar a referida disciplina do currículo escolar. Não bastasse o repúdio que os alunos naturalmente desenvolvem pelas Ciências, ainda nos surge alguém com um conhecimento restrito sobre a importância de se conhecer mesmo minimamente, o que nota-se não ser o caso da citada personalidade, para ofuscar o trabalho que muitos profissionais vêm desenvolvendo nos últimos anos para a melhoria do ensino e aprendizado em Química, especificamente. Contudo, muito sabiamente e de forma bastante esclarecedora, certamente para que pudesse ser compreendida por todos, até mesmo por aqueles que ao longo de sua vivência escolar tiveram dificuldade de compreender a aplicabilidade dos conhecimentos químicos, o Presidente da ABQ, Sr. Adriano Andricopulo, posiciona-se publicamente em defesa da Ciência/Química, bem como dos profissionais da área, que não brincam quando estão em laboratórios desenvolvendo pesquisas para descobrir ou mesmo aprimorar medicamentos e/ou tratamentos de saúde.
Prof.ª Edneide Silva
Ma. em Ensino de Química
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
PERSPECTIVAS PARA 2014......ALGO VAI MUDAR?
Nesse 01/01/2014, muitas pessoas creem que a vida irá amanhecer de outra forma, como em um passe de mágica. Será? Será que apenas o fato de grandes comemorações, falsos pedidos de desculpa a quem se passou o ano massacrando são suficientes para transformar o cenário político e social de forma instantânea? Não seria necessário haver maior empenho de cada um de nás para se reverter um pouco esse cenário? Talvez você se questione: MAS COMO? MINHA PARTE EU JÁ FAÇO. COLABORO COM A IGREJA, AJUDO AOS MAIS NECESSITADOS, SE PARO NO SEMÁFORO SEMPRE CONTRIBUO COM AQUELES MAIS CARENTES,......BLÁ, BLÁ, BLA. Eu aqui vos digo que nada disso é necessário e mesmo, faz alguma diferença ao contrario do se possa imaginar. Vos afirmo que uma boa saída seria aproveitar o ponta pé inicial dado em outubro último com as manifestações populares por todo o país. Que tal se ainda no embalo do momento a população se manifestasse nas urnas, aproveitando o ano eleitoral que se inicia? O que podemos permitir é que o esquecimento que tanto caracteriza nossa nação reine e que nas urnas eleitorais nos prostituamos pela troca de falsas promessas tão batidas: MELHORA DA SAÚDE, EDUCAÇÃO, CONCURSOS PÚBLICOS.......todas essas mentiras que fazem parte do repertório desses que enveredam pela carreira política pelo simples fato de encontrar nela a possibilidade de enriquecer de forma rápida e farta. Aqui fica a minha torcida para que mesmo uma pequena parcela da população brasileira faça a diferença na hora de votar, pois essa é a melhor forma de expressarmos toda a nossa indignação e até mesmo alertar àqueles que até então acreditavam que os absurdos políticos, fiscais e por que não dizer sociais, cometidos ficariam para sempre restritos em pequenos grupos e portanto permaneceriam na impunidade. FELIZ 2014 E QUE AO FINAL POSSAMOS CONTABILIZAR UM MENOR NÚMERO DE ESCÂNDALOS, NÃO PELO FATO DA OMISSÃO, MAS PELA INEXISTÊNCIA DE TANTA CORRUPÇÃO EM NOSSO PAÍS.
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