Educador: como você sabe, é indiscutível o papel do material
didático como recurso incentivador da aprendizagem, uma vez que as
mensagens que o estudante recebe por meio dele não são somente verbais,
mas também abarcam sons, cores, formas, sensações.
Só pela sua presença, os materiais didáticos já cumprem a função de
estabelecer contato na comunicação entre professor e aluno, alterando a
monotonia das aulas exclusivamente verbais. Esses materiais ainda podem
substituir, na maioria das vezes, a simples memorização, contribuindo
para o desenvolvimento de operações de análise e síntese, generalização e
abstração a partir de elementos concretos.
Dessa forma, ampliam o campo de experiência do estudante ao fazê-lo
defrontar-se com elementos que, de outro modo, permaneceriam distantes
no tempo e no espaço.
Há uma gama de equipamentos didáticos, em grande parte recursos
audiovisuais, que foram pensados e construídos para atender às diversas
disciplinas em todas as modalidades de ensino. Mas há casos, e não são
poucos, em que equipamentos não convencionais ou não pensados, em sua
origem, para fins pedagógicos tornam-se didáticos.
Leia o relato a seguir e conheça um bom exemplo de como isso acontece.
A flor
“Quando era pequena, estudava numa sala... parada. Espera, não quero
dizer, com isso, que as salas de aula deveriam sair por aí passeando.
Mas bem que elas poderiam dar uma sacudidinha de vez em quando e mudar o
visual para chamar a nossa atenção, certo? Mas não. Era proibido mexer
naquela sala. Parecia que qualquer modificação iria prejudicar o nosso
aprendizado. As paredes eram brancas e deviam estar sempre branquinhas,
falavam. As carteiras eram fixas, grudadas no chão. Tudo era imóvel.
Olha, nem me lembro da sala, ninguém nem olhava para os lados. Afinal,
para quê? Era sempre igual...
Um dia, um dos meninos da classe trouxe uma flor de presente para a
professora. Uma rosa cor-de-rosa. Não lembro o motivo, se era Dia do
Professor, aniversário dela ou se ele só quis agradar. Só recordo que
ele apareceu na sala de aula, eufórico, com a flor na mão.
— Professora! Trouxe um presente!
A professora era muito falante, extrovertida e espalhafatosa. Fez a
maior encenação, com cara de surpresa. ‘Mas que beleeeza! Coisa
liiinda!’. Depois pediu uns minutinhos e saiu da sala com a flor na mão.
Quando voltou, estava sem a flor.
— Ué? — o menino levantou a mão, intrigado — Professora, cadê a flor que eu dei pra senhora?
— Ah! — ela disse, sorrindo — Coloquei num vaso, lá na sala dos
professores, para não ‘atrapalhar’ a aula — e encerrou o assunto,
categórica — Obrigada, viu?
[...]
Uma simples rosa cor-de-rosa... atrapalha a aula? De onde ela tirou
isso? Gente, a flor era um presente, um ato de carinho do aluno. E,
segundo ela mesma, ‘linda’. Será que, por isso, desorganiza o espaço?
Pergunto: pode uma coisa dessas?”
CARVALHO, Lúcia. Livro do Diretor: Espaços & Pessoas. São Paulo: Cedac/MEC, 2002.
Esse pequeno relato faz parte da memória dos tempos de escola de uma
educadora, mas poderia fazer parte da história de muitos de nós, não é
mesmo? Quem já não viveu experiência semelhante, quando um elemento
alheio aos objetivos de uma aula chamou mais a atenção que a própria
aula, e a professora ou o professor o ignorou só para continuar as
atividades que havia planejado? Pois bem, esse texto nos auxilia a fazer
uma série de reflexões.
Veja que a professora, ao tirar a flor da sala — para não “atrapalhar” a
aula —, não observou que a rosa poderia, ao contrário, “ser” a própria
aula. Uma aula de biologia, ecologia, meio ambiente, reprodução das
plantas, plantio, abelhas, mel, fotossíntese, decoração, arborização e
mais um milhão de coisas! Além disso, a permanência da flor na classe
poderia ajudar na fixação desses conhecimentos. Talvez, assim, fosse
possível reparar um pouco mais na sala de aula, já que era tão
monótona... Mas a professora, da mesma forma que não reparou na flor,
também não reparava na sala de aula, que continuava parada, igual.
Perceba, então, que uma das principais funções do material didático é,
também, dinamizar a aula, aguçando a curiosidade do aluno e despertando
sua atenção para o que vai ser tratado naquele momento. Claro que seu
uso precisa ser planejado, bem-elaborado, preparado com antecedência.
Porém, como determinam as boas práticas didáticas, o planejamento das
aulas pode — e deve — resultar em atividades flexíveis, no sentido de
atender às demandas concretas dos alunos, fazendo uma ponte com os
componentes curriculares, ainda que não previstos para aquele momento.
Se analisarmos bem, veremos que é exatamente esse o caso da rosa.
E, assim como ela, vários são os elementos, os objetos presentes no
nosso cotidiano que podem se transformar em ótimos recursos didáticos.
Nos cursos de mecânica de automóveis, por exemplo, geralmente, durante
as aulas expositivas, as peças de motores de carros vão sendo
apresentadas, montadas e desmontadas para que o aluno consiga fazer as
relações necessárias entre o que está sendo ensinado e o que precisa ser
aprendido, entre teoria e prática, para que esse processo seja eficaz
no desenvolvimento das habilidades básicas, essenciais à formação de um
mecânico competente.
Nessa mesma linha de raciocínio, vários utensílios podem, dependendo dos
objetivos da aula, tornar-se materiais didáticos. Uma aula sobre
alimentação saudável, por exemplo, pode ser realizada, se não
diretamente na cozinha, utilizando-se equipamentos próprios, incluindo,
além de vasilhas e talheres, medidores de líquido e balança. O preparo
de receitas saudáveis e alternativas, além de mudar os hábitos
alimentares dos alunos, pode colocá-los em contato com os conhecimentos
sobre medidas de capacidade (litro, mililitro) e de massa (quilo,
grama), entre outros. Nesse caso, os utensílios de cozinha e os
instrumentos de medição revestem-se de um caráter iminentemente
didático, uma vez que atuam como mediadores das construções necessárias à
aquisição daqueles conhecimentos.
Em seu ambiente de trabalho, há muitos instrumentos e ferramentas de uso
voltados à manutenção e à conservação da infraestrutura escolar
(equipamentos de limpeza, marcenaria, capina, etc.). Verifique quais
deles poderiam ser utilizados pelos estudantes em uma atividade de
educação ambiental, visando à economia de recursos naturais ou à
preservação das áreas verdes da escola, por exemplo. Selecione o tema e
os materiais a eles relacionados. Descreva de que forma poderiam ser
empregados a fim de exercerem funções didáticas.
Principais recursos didáticos utilizados na Educação brasileira
Historicamente, no Brasil, as sucessivas reformas educacionais incluem
materiais didáticos inovadores como exigência de novas filosofias e/ou
metodologias de ensino que agreguem aos conceitos didáticos e
pedagógicos a reformulação da prática docente. Em geral, tal
reformulação prevê a adoção de novas técnicas, às quais se relacionam
novos materiais e equipamentos.
Mas o que se tem, na verdade, são tentativas, de cima para baixo, e
muitas vezes frustradas, de modernizar os processos sem levar em conta
todos os elementos envolvidos. Talvez esse tenha sido um dos principais
fatores que colaboraram para a subutilização dos recursos disponíveis
nas escolas, na comunidade, na natureza. A produção de materiais e
equipamentos didáticos deriva antes dos interesses dos fabricantes e dos
fornecedores do que da necessidade dos educadores e dos educandos.
É, de certa forma, compreensível que tal coisa aconteça, pois já vivemos
a experiência cotidiana em que a imposição impera em lugar das práticas
democráticas e dialógicas. Dessa maneira, os resultados tendem a
atingir padrões aquém das expectativas.
Em relação à Educação, a contextualização não apenas do currículo, mas,
sobretudo, das estratégias a serem adotadas é cada vez mais necessária,
tendo em vista o respeito às diferenças socioculturais e às demandas
específicas de cada grupo que ocupa o espaço educacional.
Outro aspecto importante confirmado pelas práticas escolares é a
introdução de um recurso didático — por mais desenvolvido
tecnologicamente que seja, em qualquer época — não apresentar resultados
instantâneos e automáticos nem no ensino nem na aprendizagem. Nesse
sentido, apenas uma aplicação sistemática, ordenada, com ações bem
planejadas, objetivos bem-definidos e respeito ao contexto educacional
local podem promover, a médio prazo, as mudanças que os materiais e
equipamentos didáticos têm em potencial.
Há de se levar em conta a participação dos diversos segmentos da
comunidade escolar na construção das propostas pedagógicas, bem como na
seleção das ferramentas adequadas às intervenções. Nesse caso, vale
lembrar o papel fundamental que você, funcionário da escola, deve
exercer a partir não somente da vivência como educador, mas também dos
conhecimentos específicos adquiridos, que lhe conferem habilidades de
técnico e gestor nesses processos.
Esses conhecimentos novos devem garantir sua efetiva participação,
sobretudo no planejamento, no uso, na manutenção e na conservação dos
equipamentos didáticos adequados para cada fim, a partir do planejamento
das atividades pedagógicas elaboradas pelos professores, se possível em
conjunto com você e com os outros técnicos da escola.
Para tanto, um conhecimento um pouco mais aprofundado sobre os materiais
e equipamentos didáticos atualmente em uso nas nossas escolas é
essencial. Veja, no quadro a seguir, a lista de recursos didáticos mais
conhecidos no Brasil:
Álbum Seriado
Cartazes
Computador
Desenhos
Diorama
Discos
DVDs
Episcópio
Filmes
Data-show
Flanelógrafo
Fôlderes
Gráficos
Gravador
Gravuras
Televisão
Textos
Transparências
Varal Didático
História em Quadrinhos
Ilustrações
Jornais
Letreiros
Livros
Mapas
Maquetes
Mimeógrafo
Modelos
Mural
Museus
Quadro Magnético
Quadro de Giz
Reália
Retroprojetor
Slides
Revistas
Videocassete
Aparelho de DVD
Esses materiais e equipamentos são mais conhecidos por serem mais
universais, ou seja, podem ser utilizados em todos os componentes
curriculares e em todas as modalidades do ensino, além de terem um custo
relativamente baixo. Alguns deles serão estudados mais detalhadamente.
Há, ainda, materiais específicos para etapas e modalidades de ensino
específico, como é o caso dos equipamentos para creches e pré-escolas,
para as diferentes idades e matérias dos ensinos Fundamental e Médio,
para a educação profissional e para os portadores de necessidades
educacionais especiais.
Aqui, você conheceu uma lista de materiais e equipamentos. Com base nas
informações nela contidas, realize, na escola em que você trabalha, uma
pesquisa sobre os materiais e equipamentos existentes. Relacione-os e
verifique se estão identificados na lista daqueles mais populares e
aponte a qual grupo de classificação cada um pertence.
Aponte, ainda, quais equipamentos relacionados no quadro — e não
existentes na sua escola — você considera de extrema importância para a
mediação do ensino-aprendizagem. Justifique sua escolha. Registre em seu
memorial.
FREITAS, Olga. Equipamentos e Materiais Didáticos. Brasília: Universidade de Brasília, 2007.
Fonte: Maria Rosângela Mello – CRTE Telêmaco Borea.