segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A EDUCADORA MARIE CURIE

DISPONÍVEL: http://cienciahoje.uol.com.br/alo-professor/intervalo/2014/07/a-educadora-marie-curie
ACESSO: 01/09/2014

Menos conhecida do público, a atuação no ensino de ciências da única mulher a ganhar dois prêmios Nobel merece ser lembrada. O destaque vai para a ênfase dada por ela à experimentação e para a cooperativa que criou para despertar vocações.
Por: Vera Rita da Costa
Publicado em 10/07/2014 | Atualizado em 10/07/2014
A educadora Marie Curie
Uma das personalidades mais conhecidas e admiradas em todo o mundo, Marie Curie dedicou-se e deu especial valor ao ensino de ciências. (foto: Smithsonian Institution Archives)
 
Há 80 anos, mais precisamente em 4 de julho de 1934, morria Madame Curie – uma das personalidades mais conhecidas e admiradas na história da ciência. Pouco se conhece e se divulga, no entanto, a ligação que tinha a cientista com a educação em ciência e, principalmente, o valor que dava a ela.
Maria Salomee Sklodowska, mais tarde Marie Curie, nasceu em 1867 em Varsóvia, Polônia, em um ambiente familiar rico em cultura e educação. Marie era filha de professores conhecidos em Varsóvia. Sua mãe, Bronsilawa Boguska, era professora primária e dava aulas de piano e canto, mas morreu jovem, quando Marie Curie tinha apenas 10 anos. Seu pai, Władysław Skłodowski (1832-1902), era um admirado professor secundário de física e matemática, influente politicamente entre os estudantes, em um período de resistência à dominação russa sobre a Polônia.
 
O pai foi a principal influência de Marie Curie e o desencadeador de sua paixão pela ciência. Conta-se que, embora tenha sido sempre excelente aluna e primeira colocada em todas as matérias, o contato mais íntimo de Marie com a ciência, em especial com a ciência experimental – em que se mostrou tão competente no futuro –, se deu em casa e por um golpe negativo do destino.
Proibido de ensinar ciência experimental pelas autoridades russas (a Polônia na segunda metade do século 19 estava sob domínio russo), Władysław Skłodowski transferiu os instrumentos de seu laboratório de ensino de física para casa, onde passou a enriquecer a cultura da filha também nesse aspecto, estimulando-a ainda jovem na atitude científica essencial: buscar conhecimento por meio da experimentação.
Outro aspecto interessante e pouco apresentado da biografia de Marie Curie, que diz respeito diretamente à educação, é o fato de ela, desde muito cedo, ter se dedicado ao ensino.
Em 1885, aos 18 anos – muito antes, portanto, de suas conquistas acadêmicas –, Marie Curie driblou as dificuldades financeiras vividas pela família, tornando-se professora particular (preceptora) de filhos de famílias ricas na Polônia.
 
Nessa oportunidade, arriscou-se politicamente, ao manter uma sala de aula improvisada e ensinar a língua e a cultura polonesas, proibidas pelas autoridades russas, a crianças e jovens camponeses. Também se envolveu, juntamente com sua irmã Bronislawa Sklodowska (1865-1939), com a ‘Universidade Volante’, uma escola noturna informal e ilegal criada para estudantes poloneses, principalmente mulheres, impedidos de seguir cursos regulares por restrições das autoridades russas.
Aliás, foi também por conta da proibição de as mulheres frequentarem universidades que Marie Curie mudou-se para a França, para satisfazer seu desejo de se aprofundar nos estudos.
Mais tarde, já aos 33 anos e enfronhada na pesquisa científica, Marie Curie tornou-se novamente professora, dessa vez na Escola Secundária de Sévres, onde era comum professores oriundos da Universidade de Sorbonne e do Collége de France darem aulas, embora fosse raríssimo encontrar docentes mulheres.
Marie Curie foi a primeira mulher a participar do corpo docente da Sorbonne e, segundo consta dos relatos de suas ex-alunas, inovou no ensino de física ao ampliar o tempo de suas aulas, produzir seu próprio material de ensino, levar suas alunas para conhecer laboratórios de pesquisa, inclusive aquele onde ela trabalhava com o primeiro marido, o físico Pierre Curie (1859-1906), e pôr as meninas em contato direto com equipamentos e experimentos – atividade antes restrita aos rapazes.

Despertar vocações
Mas de todas as experiências pedagógicas de Marie Curie, há uma que, embora não seja com frequência mencionada em suas biografias, deveria ser mais destacada e enaltecida. Trata-se da cooperativa de ensino, criada por iniciativa dela e de um grupo de amigos e destinada a aprofundar os conhecimentos culturais e ensinar ciência, sob uma perspectiva experimental, aos próprios filhos.
A ideia, como foi mais tarde relatada pela própria filha de Marie, Irene Joliot-Curie (1897-1956), era despertar vocações científicas, mas fazê-lo fugindo da, já tradicional na época, apresentação teórica da ciência.
Na Cooperativa, como era chamada a escola informal por alunos e professores, as próprias crianças realizavam as experiências, orientadas e estimuladas pelos professores – e os professores, nesse caso, não poderiam ser melhores. Entre eles estavam, além de Marie e Pierre Curie, os físicos Jean Baptiste Perrin (1870-1942) e Paul Langevin (1872-1946).
Também participaram da iniciativa, como professores de francês, literatura ou história, Marie Henriette Mouton, Henriette Perrin e Alice Chavannes, além do escultor Jean Magrou (1869-1936), que se encarregava das aulas de desenho e modelagem.
Alunas de Marie Curie
Tirada aproximadamente entre 1910 e 1915, a foto mostra Marie com quatro de suas estudantes. Ela foi a primeira mulher a dar aulas de física na Universidade de Sorbonne, na França. (foto: Library of Congress)

 
A biografia de Marie Curie é fascinante e deveria ser ainda mais conhecida em seus muitos e variados aspectos por todo aquele que é professor ou interessado em ciência
A parte árdua, romântica e dramática da história – aquela que envolve a descoberta do elemento rádio, o casamento e a colaboração científica com Pierre Curie, assim como a sua morte trágica – pode ser conhecida no clássico filme hollywoodiano Madame Curie. A produção é de 1943, baseou-se na biografia escrita por sua filha Ève Curie (1904-2007) e tem como atores principais Greer Garson (Marie) e Walter Pidgeon (Pierre). Dirigida por Paul Osborn e Paul Rameau, contou também com o auxílio do escritor Aldous Huxley (1894-1963), o que certamente contribuiu para a veracidade e qualidade do filme.
Mas se o interesse pela obra de Marie Curie for pedagógico ou didático, há outra dica interessante. Vale, nesse caso, ler Aulas de Marie Curie, coletânea das aulas de física dadas por Marie às crianças da Cooperativa, anotadas e comentadas, em 1907, por Isabelle Chavannes, uma das alunas na oportunidade.
As aulas de Madame Curie abordam questões essenciais da física. Nelas, por exemplo, as crianças são instigadas a distinguir o vácuo do ar; a descobrir que o ar pesa sobre os ombros; a compreender como a água chega à torneira ou, ainda, a descobrir como fazer flutuar os barcos.
Isabelle Chavannes tinha apenas 13 anos quando participou da Cooperativa. Era uma das crianças mais velhas da turma e tornou-se mais tarde engenheira química do grupo industrial francês Ugine Kuhlmann. Graças a suas detalhadas anotações, podemos hoje perceber qual o método usado por Marie Curie para despertar a curiosidade e fazer as crianças estudarem.
Da leitura das anotações de Isabelle, depreende-se que, de modo geral, nada era oferecido por Madame Curie às crianças ‘de bandeja’. O que de fato ela fazia era relativamente simples: instigava, encorajava e orientava as crianças a pensar e a experimentar.
Leia tambémA educadora Marie Curie: uma perspectiva diferenciada dessa cientista, de Ingrid Nunes Derossi e Ivoni Freitas-Reis. XVI Encontro Nacional de Ensino de Química (XVI ENEQ) e X Encontro de Educação Química da Bahia (X EDUQUI) Salvador, BA, Brasil – 17 a 20 de julho de 2012.
A família Curie, de José Maria Bassalo. Curiosidades da Física. Seara da ciência/ UFCE.


Vera Rita da Costa


Ciência Hoje/ SP

17 ANOS APÓS A SUGESTÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES......o que mudou???

 
ACESSO: 01/09/2014
 

A passo de tartaruga

Diretrizes sugeridas pelos parâmetros curriculares há 17 anos apontam para um ensino de ciência exemplar. Porém, as mudanças necessárias ainda não ocorreram na nossa educação, que mantém uma abordagem excessivamente ‘conteudista’.
Por: Vera Rita da Costa
Publicado em 27/08/2014 | Atualizado em 27/08/2014
 
 

Já faz 17 anos que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) foram lançados e, cada vez que refaço essa conta, fico admirada com o quanto caminhamos lentamente em nosso país quando o objetivo é promover mudanças significativas na educação. De maneira específica no ensino de ciências, sinto-me até obrigada a mudar o termo usado antes. Pensando bem, nossa lentidão em mudar o ensino de ciências no país é de deixar qualquer um chocado ou, ainda, escandalizado.
Será que hoje acordei pessimista? Pode ser. Mas se essa é a razão da minha constatação, a causa de fundo talvez esteja na divulgação, na semana passada, de mais um índice sobre nosso ‘analfabetismo’ científico.
Você deve ter lido na publicaçã anterior da CH On-line. De crianças a adultos, incluindo quem tem nível universitário, quem é gestor público ou trabalha nas áreas de educação e saúde, praticamente ninguém escapa. Por melhor que sejam os índices alcançados, ainda estamos todos muito longe do ‘letramento’ desejável em ciências.
Curiosamente, no entanto, os parâmetros definidos para o ensino de ciências há quase 20 anos não apontavam nem de longe essa direção. Ao contrário, revelavam um futuro animador. Mesmo tendo recebido críticas e ponderações, o que foi proposto naquela oportunidade indicava uma boa direção a seguir.

Olhar para trás

Retomemos o texto original dos PCNs do ensino fundamental (1ª a 4ª séries): uma das ideias importantes que lá figuram é justamente a de explorar com os alunos as competências ou habilidades que lhes permitam “compreender o mundo e atuar como indivíduo e como cidadão, utilizando conhecimentos de natureza científica e tecnológica”. Alfabetização ou letramento científico, pura e simplesmente.
Também se sugere, como forma de romper com a fragmentação excessiva do ensino, o trabalho por blocos temáticos e a ênfase em conceitos-chave ou estruturantes do pensamento em ciência.
A ideia era favorecer a integração entre as diversas disciplinas, em substituição à abordagem tradicional, compartimentalizada, das diferentes áreas que compõem as ciências naturais
A ideia era favorecer a integração entre as diversas disciplinas, em substituição à abordagem tradicional, compartimentalizada, das diferentes áreas que compõem as ciências naturais e reintroduzir nas salas de aula o conteúdo de importantes disciplinas, como a física, a astronomia, as geociências e a química, havia muito esquecidas nas séries iniciais.
O foco, no entanto, não deveria estar na mera transmissão de informações, mas no trabalho em torno daqueles conceitos realmente importantes, presentes nas diferentes ciências, e que se revelam, portanto, como integradores nos diversos campos do conhecimento.
Ou seja, mais do que informações isoladas e descontextualizadas, a ideia expressa nos PCNs para o ensino de ciências nas primeiras séries do ensino fundamental – e que se mantém ainda atual – estava centrada na abordagem de conceitos (como energia, matéria, espaço, tempo, transformação, sistema, equilíbrio, variação, ciclo, fluxo, relação e interação) que permeiam e dão sentido às mais importantes ideias e teorias científicas – e que, por isso mesmo, tornam-se fundamentais para a sua compreensão adequada.
Há nos PCNs, ainda, uma terceira orientação importante a destacar, mas que também espera por ser efetivada em nosso ensino de ciências: a incorporação de atitudes e valores como conteúdo a ser desenvolvido e, de fato, valorizado nessa faixa do ensino.
Em outras palavras, está lá também a importante noção de que, tanto quanto desenvolver conteúdos conceituais e habilidades cognitivas e procedimentais, é fundamental desenvolver posturas e valores e promover o aprendizado de atitudes características da ciência.
Nunca antes essa dimensão da aprendizagem havia sido destacada de forma tão explícita em nossas propostas curriculares oficiais e, no entanto, essa parece ser a dimensão menos abordada em nosso ensino de ciências.

Valores da ciência

Pensemos por um instante. Quais são os valores e atitudes típicos da ciência que deveriam ser cultivados entre nossos alunos? Quais os valores, atitudes e posturas que deveriam constar como prioridade em nossos planejamentos e em nossas avaliações do processo de ensino e aprendizagem em ciências?
Faça essas perguntas a algum colega professor de ciências (ou a si mesmo) e perceberá: a resposta não se encontra na ponta da língua, como deveria, pois esse não é um assunto que se debata com frequência entre nós.
Nosso foco de atenção costuma recair nos temas ou conceitos a serem abordados ou, ainda, nas informações a serem transmitidas
Não que não estejamos preocupados com o que ensinar. É que nosso foco de atenção costuma recair nos temas ou conceitos a serem abordados ou, ainda, nas informações a serem transmitidas. Generalizando, somos, como se diz por aí, ‘conteudistas’. Não incorporamos o desenvolvimento das habilidades e, menos ainda, o de valores e atitudes entre nossas preocupações pedagógicas.
No entanto, valores e atitudes são o centro ou a característica principal dessa atividade que se chama ciência.
O matemático, historiador e divulgador da ciência Jacob Bronowski (1908-1974) escreveu um livro sobre esse tema, Ciência e valores humanos (Itatiaia/Edusp, 1979), no qual defende a ideia de que a ciência não apenas se baseia em valores, mas ajuda a criá-los e a moldá-los.
vidros laboratório
Entre os parâmetros curriculares, destacam-se valores da ciência que devem ser apresentados: curiosidade, atitude proativa, organização, sistematização, rigor, precisão, reflexão e crítica. (foto: Jean Scheijen/ Freeimages)
Para Bronowski, independência, originalidade, discordância, liberdade e tolerância estão entre esses valores que derivam do processo de busca da verdade que caracteriza a ciência e que nos têm sido ensinados por ela desde o Renascimento. A ciência – diz ele – humanizou nosso modo de ser, nossos valores e ensinou-nos, basicamente, o livre pensar, o livre agir e o livre opinar.
É para se pensar, portanto, se não seria esse o objetivo principal do ensino de ciências.
Mas, talvez, nem precisemos ir tão além. Voltemos aos PCNs. Neles, também se destacam os valores da ciência. A curiosidade está entre eles. Também se encontram a atitude proativa ou a disposição para fazer e conhecer; a organização e sistematização; o rigor e a precisão; a reflexão e a crítica; a atitude cooperativa; o respeito à diversidade de opiniões ou às provas obtidas por meio da investigação e a persistência e o empenho na busca e compreensão das informações e mesmo na consecução de uma tarefa.

Atrasados nas mudanças

Considerando, portanto, a inquietude inicial que motivou esse texto, pergunto: por que estamos tão atrasados nesse processo de mudança?
Somos todos, mesmo, analfabetos funcionais’ em ciência
É certo que a falta de condições estruturais (salários, infraestrutura, formação adequada, entre outras) pesa nesse fato. Mas, certamente, o atraso não se deve só a isso. Falta também pôr em prática entre nós esses mesmos valores humanos que caracterizam o fazer objetivo da ciência.
Das mais altas esferas do poder da educação em nosso país à sala de aula e à nossa relação direta com os alunos, ainda somos muito carentes de atitude proativa; organização; sistematização; rigor; precisão; reflexão; crítica; atitude cooperativa; respeito à diversidade de opiniões; persistência e empenho – os valores principais da ciência.
Nesse sentido, não há mesmo o que duvidar dos resultados em mais essa pesquisa divulgada: somos todos, mesmo, ‘analfabetos funcionais’ em ciência. Nossos rudimentares conhecimentos científicos, sobretudo em termos dos valores e atitudes que caracterizam a ciência, não têm nos permitido ser eficazes e avançar a passos largos e em termos práticos.

Vera Rita da Costa
Ciência Hoje/ SP

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Brasileiro: 'analfabeto' científico?

DISPONÍVEL:http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2014/08/brasileiro-analfabeto-cientifico
ACESSO: 26/08/2014
      
Novo índice mostra que a ciência influencia a forma de ver o mundo e de lidar com situações complexas de apenas 5% dos avaliados, enquanto mais da metade sequer consegue aplicar o que aprendeu na escola em situações cotidianas.
Por: Marcelo Garcia
Publicado em 18/08/2014 | Atualizado em 18/08/2014
Brasileiro: 'analfabeto' científico?
Desempenho brasileiro no primeiro Índice de Letramento Científico mostra que ciência não está integrada ao cotidiano do brasileiro. (foto: Flickr/ Fortimbras - CC BY-NC-ND 2.0)
Como você avalia a sua capacidade de utilizar o conhecimento científico para resolver questões do dia a dia? E para fazer abstrações, criar hipóteses, planejar e inovar? Em um mundo em que a ciência e a tecnologia estão cada vez mais presentes, em que a sociedade é chamada a se posicionar sobre grandes questões como pesquisas com células-tronco e cultivo de transgênicos e no qual inovar é a palavra de ordem das empresas, essas questões são fundamentais. Mas, segundo a primeira edição do Índice de Letramento Científico (ILC), no Brasil é muito baixa a quantidade de pessoas ‘letradas’ em ciências, capazes de empregar os conhecimentos escolares no seu cotidiano e no planejamento do futuro.
Bem diferente das avaliações de ensino existentes no Brasil, a proposta do ILC é medir quanto do conhecimento escolar é de fato aplicado na prática. Para seus criadores, o resultado negativo ajuda a entender alguns gargalos sociopolíticos e econômicos do país, como a baixa capacidade de inovação. O índice, cuja versão completa foi divulgada recentemente, é fruto de uma parceria entre o Instituto Abramundo, o Instituto Paulo Montenegro, responsável pela ação social do Grupo Ibope, e a ONG Ação Educativa.
O maior desafio foi traduzir o domínio de conceitos científicos em perguntas diretas e práticas para agrupar os participantes em faixas claras e facilitar ações posteriores
Para sua construção, foram aplicados questionários a 2002 pessoas entre 15 e 40 anos, com ao menos quatro anos do ensino fundamental completos, em oito capitais estaduais e no Distrito Federal. O questionário era composto por mais de 60 perguntas, que avaliaram a capacidade de identificar simples informações explícitas em texto, tabela ou gráfico (como consumo de energia ou dosagem em bula de remédio), de comparar informações simples para tomar decisões; de empregar informações não explícitas para resolver problemas práticos e processos do cotidiano e, ainda, de propor e analisar hipóteses sobre fenômenos complexos, mesmo não diretamente ligados ao seu dia a dia. A partir das respostas, os participantes foram classificados por nível de letramento: ausente, elementar, básico e proficiente.
O maior desafio foi traduzir o domínio de conceitos científicos em perguntas diretas e práticas para agrupar os participantes em faixas claras e facilitar ações posteriores. A metodologia aplicada foi adaptada do Índice de Analfabetismo Funcional (IAF), também produzido pelo Instituto Paulo Montenegro e que avalia os conhecimentos de português e matemática na prática. A ideia é que a avaliação seja repetida a cada dois anos.

Resultados preocupantes

De forma geral, 79% dos participantes ficaram na zona intermediária (48% no nível 2 e 31% no nível 3), enquanto 16% apresentaram letramento ausente (nível 1) e apenas 5% do total se mostraram de fato proficientes em ciência. O índice torna clara a dificuldade de grande parte dos entrevistados em realizar tarefas simples: 43% deles declararam ter problemas para compreender gráficos e tabelas, enquanto 48% acham difícil interpretar rótulos de alimentos. Entre aqueles com ILC elementar (mais comum), 58% tem problemas, por exemplo, para consultar dados sobre saúde e medicamentos na internet.
Ciência na gestão pública
Resultado ruim mesmo entre gestores públicos mostra que pensamento científico pouco influencia suas decisões, o que pode ter consequências negativas em todos os campos, da própria educação à saúde, ao saneamento e ao planejamento urbano, por exemplo. (foto: Flickr/ Samchio – CC BY-NC-SA 2.0)
Os resultados também foram relacionados ao nível de formação e à área de atuação dos entrevistados – e ficam ainda mais preocupantes, já que os indivíduos com ensino superior considerados proficientes em ciência foram apenas 11%, enquanto 48% estão no nível 3, 37% no nível 2 e quase inacreditáveis 4% apresentaram letramento ausente.
Em relação ao mercado de trabalho, as áreas de administração pública, educação e saúde alcançaram o melhor resultado, apesar de pouco animador: 43% das pessoas têm letramento básico e 9%, proficiente. Na indústria e na prestação de serviços, 42% e 31% dos trabalhadores ficaram no nível 3, enquanto apenas 5% e 6% eram proficientes, respectivamente.
A diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lucia Lima, diz ter ficado surpresa com a baixa proficiência dos indivíduos mais escolarizados e dos tomadores de decisões, empreendedores e empresários, envolvidos diretamente no investimento e planejamento de atividades que vão desde o descarte do lixo à gestão da saúde e da educação. “Os dados mostram que o aprendizado fica restrito à escola e é preocupante que a ciência influencie tão pouco a visão de mundo dessas pessoas, sua atividade cotidiana e as decisões que tomam”, avalia.

Consequências adversas

Para os responsáveis pelo ILC, os impactos do cenário apontado pelo índice vão desde questões cotidianas a problemas que abrangem a vida econômica e social do país. “No dia a dia, isso se manifesta quando a cabeleireira usa um produto que ela deveria saber que faz mal ou quando os pais medicam os filhos por conta própria sem pensar nos efeitos colaterais ou nas interações entre medicamentos”, exemplifica Lima.
Garcia: “Os reflexos também aparecem na pífia capacidade de inovação de nossas empresas: os trabalhadores pouco refletem sobre seu trabalho, não desafiam o status quo
“Os reflexos também aparecem na pífia capacidade de inovação de nossas empresas: os trabalhadores pouco refletem sobre seu trabalho, não desafiam o status quo”, afirma Ricardo Uzal Garcia, presidente do Instituto Abramundo. “Além disso, o brasileiro não parece, em geral, preparado para opinar sobre grandes temas da ciência nem para tomar decisões cada vez mais necessárias sobre temas como transgênicos e células-tronco.”
Lima aponta ainda a formação de um gargalo de mão de obra no país e faz um alerta para o futuro. “Os empregos no país têm aumentado, mas apenas as vagas pouco especializadas; cargos melhores permanecem ociosos também pela inexistência de um pensamento científico aplicado, necessário para tais posições”, analisa. “Algo precisa ser feito para mudar essa situação, pois se nossos gestores tomam decisões que pouco consideram o conhecimento científico, a ciência nunca será valorizada como deve e isso continuará a impactar a inovação, a saúde, o meio ambiente e todas as áreas.”

Ensino de ciências

Junto com o índice, também foi feita uma pesquisa de percepção pública da ciência, cujo resultado é significativo: apesar do fraco desempenho no ILC, os participantes reconhecem a importância da ciência para a compreensão de mundo (42% concordam plenamente e 30% concordam em parte) e para obter boas oportunidades de trabalho (41% e 27%, respectivamente). “As pessoas têm interesse e acham a ciência importante, mas não vão a fundo porque não se sentem competentes”, avalia Lima. “É uma pista importante de que há algo errado na formação dos estudantes”, completa Garcia.
Uma olhada em outros indicadores de ensino reforça a má situação do país na área: no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), por exemplo, um dos piores desempenhos do Brasil é em ciências (59º entre 65 países).
Ciência para crianças
Para melhorar o índice, segredo pode estar em investir mais no ensino fundamental e buscar maneiras de manter o interesse dos jovens pela ciência. (foto: Flickr/ emeryjl - CC BY 2.0)
Lima recupera a história da educação no país para explicar a situação atual. “O ensino se tornou um grande desafio a partir da década de 1990, pois sua universalização incluiu pessoas historicamente segregadas, famílias com níveis muito baixos de escolaridade”, afirma. A mudança, segundo ela, levou a um natural privilégio do ensino de português e de matemática, por serem competências mais básicas. “Em 25 anos, os avanços nessas áreas ainda não foram suficientes, mas ainda assim acredito que já seja hora de avançar para outros campos, e a ciência é a candidata natural para receber mais atenção.”
Lima: “Como matamos essa curiosidade natural? Deve haver muita coisa errada, do currículo à forma de ensinar.”
Um dado que se destaca no ILC é o desempenho semelhante de indivíduos com ensino fundamental e com ensino médio – 50% de pessoas do primeiro grupo têm letramento elementar, contra 52% no segundo, que também conta com 15% de pessoas com letramento ausente. Para Lima, as conversas com professores dão pistas sobre os motivos por trás desse resultado, por reforçarem que nas séries iniciais as crianças adoram ciências, mas perdem o interesse depois. “O desempenho no ensino médio deveria ser proporcional ao investimento maior, com professores especialistas e maior carga horária”, diz. “Como matamos essa curiosidade natural? Deve haver muita coisa errada, do currículo à forma de ensinar.”
Garcia ressalta a necessidade de criação de programas de ensino voltados para as séries mais baixas. “O impacto da iniciação científica de qualidade desde as primeiras séries pode ser fundamental para despertar o gosto por ciências no futuro”, diz.
Os organizadores também apostam na educação não formal e na parceria com a iniciativa privada para tentar mudar esse quadro. “Precisamos criar museus e centros de ciência para estimular uma cultura científica que hoje não existe”, defende o presidente da Abramundo. “Podemos pensar, por exemplo, em exposições sobre os ciclos do petróleo ou da agricultura, áreas em que atuam empresas enormes.” Lima conclui: “O problema não é só da escola, já que muitas pessoas não voltarão à sala de aula; é aí que a ação de igrejas, sindicatos e empresas pode ser fundamental.”
Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line

terça-feira, 19 de agosto de 2014

RESENHA: A Violência na Escola: A Percepção dos Alunos e Professores/Aída Maria Monteiro Silvia


Estudos realizados por Rodrigues GUERREIRO (Colômbia) e João YUNES, destacados em artigo de Gilberto DIMENSTEIN (1996). A violência, para esses autores, é hoje uma questão mundial, pois afeta as grandes metrópoles, inclusive as dos países de Primeiro Mundo. É considerada "um problema de utilidade pública e usar apenas a repressão simplesmente não funciona. O germe da violência se propaga em proporções semelhantes às das doenças infecciosas". E o mais grave é que esta problemática não pode ser combatida com vacinas para que se obtenham resultados mais rápidos como nos casos das doenças. Estes pesquisadores, ao investigar as causas da violência, evidenciaram que são vários os fatores que a determinam: desemprego, renda, escolaridade, religião, cor, desestrutura familiar, entre outros. Esta compreensão sobre as causas da violência é também referendada por Marília SPOSITO (1994), ao enfatizar que são várias as explicações que têm sido utilizadas sobre o fenômeno da violência. Uma delas é calcada nas determinações sociais e econômicas.

Esta multiplicidade de fatores torna a problemática da violência muito mais difícil de ser combatida, uma vez que, por sua complexidade, requer definição e implementação de políticas públicas sociais nas áreas básicas destinadas ao atendimento de todos os cidadãos. Mas, no Brasil, ao que se tem assistido, além da ausência de políticas nesta direção, é a vivência de práticas sistemáticas de violência e de violação de direitos pelo próprio Estado, quando, por exemplo, este não garante aos cidadãos os direitos que lhes são assegurados, constitucionalmente, há várias décadas, como é o caso do direito à Educação, entre outros.

Em relação à Educação especificamente, a problemática da repetência e da evasão vem permeando o sistema escolar há várias décadas, numa demonstração de que o Estado, além de não ter garantido a universalização da Escola Pública para todos os cidadãos, também não tem conseguido garantir aos que nela ingressam a sua permanência com qualidade. Embora saibamos que as origens do fracasso escolar encontra explicação também no interior da escola, este interior é resultante do conjunto de determinações político-sociais, onde as definições e a vontade políticas têm maior peso. A não garantia pelo Estado do acesso à Escola Pública a todos desencadeia novas modalidades de exclusão social pelos mecanismos de seleção que o sistema educativo aplica. Esta seletividade se estabelece entre quem tem acesso à instituição escolar e os que são excluídos, estratificando e segmentando os cidadãos; dentro, os que sabem, os que têm cultura; e fora, os que não têm (SPÓSITO, 1994). Além disso, este processo de exclusão faz com que a maioria da juventude não tenha participação nem política, nem na produção econômica, social e cultural, por não ter acesso à educação básica, e daí o caminho do crime, muitas vezes, apresenta-se como um sucedâneo para a frustração social (Vicente BARRETO, 1996). Como visto no vídeo, onde o Juvelino foi “encontrado” por um traficante e assim conseguiu se impor frente a sociedade. Certamente, não da forma mais adequada, mas forma que lhe foi oferecida.

O que parece bastante grave, além da violência em si, é o fato de que as várias formas de violência, produzidas no cotidiano da sociedade, parecem não mais indignar a população brasileira. É como se ela fosse "aceita" por todos, a ponto de a população conviver com esta realidade sem maiores traumas, ou seja, a própria vida parece não ter maior significado, chegando a ser banalizada. Matar ou morrer não faz maior diferença. Tornou-se comum a indiferença instituída pela dor do outro.

Algumas reflexões.........

Há tempos, observo que a minha inserção na Educação vem ocorrendo de modo involuntário........calma, não quero afirmar com isso que esteja sendo descomprometida! Durante algum tempo participei de pesquisas educativas onde tentei parear os conteúdos formais aos acadêmicos, embora, tenha ao longo do desenvolvimento dessas atividades, agregado muito mais desencantos do que reconhecimento, posso afirmar que obtive sucesso! Pensando nisso e refletindo sobre algumas leituras, e principalmente em uma das últimas, que fora de Cachapuz, no texto Do ensino das ciências: seis ideais que aprendi, encontro alento para meus sentimentos de impotência e até mesmo incompetência frente a situação da formação dos professores. Logo no início do texto o autor cita o filósofo Cícero e faz a Ele a inferência que existem seis erros que os homens normalmente não aceitam/reconhecem como erro antes de atingir os 50 anos de idade. Considerando que o mais severo pra si, é o de não refinarmos continuamente a nossa mente, reflito que nossos colegas professores das ciências (foco principal) encontram-se nessa situação. Aqui poderíamos listar fatores afins que explicam essa inércia mental, contudo, quero mesmo é focar no aspecto de assistencialismo que a educação com o foco na formação de professores veio adquirindo ao longo de sua implantação. Vejam a situação: o fato de um colega ter que se deslocar para escolas distintas localizadas em outros municípios, não deve ser usado como meio de comoção para com o formador de uma dada disciplina.

RESENHA: Políticas e Gestão da Educação Básica: limites e perspectivas/LUIZ FERNANDES DOURADO


Qual a concepção de gestão educacional apresentada no texto?

No contexto nacional, a discussão sobre a gestão da educação básica apresenta-se a partir de várias proposições, bem como concepções e cenários complexos, articulados aos sistemas de ensino. Nessa direção, é fundamental situar os eixos que permeiam a presente análise sobre gestão, no tocante à concepção, formação e financiamento da educação. A concepção de educação é entendida, no texto, como prática social, portanto, constitutiva e constituinte das relações sociais mais amplas, a partir de embates e processos em disputa que traduzem distintas concepções de homem, mundo e sociedade. Para efeito de análise, a educação é entendida como processo amplo de socialização da cultura, historicamente produzida pelo homem, e a escola, como lócus privilegiado de produção e apropriação do saber, cujas políticas, gestão e processos se organizam, coletivamente ou não, em prol dos objetivos de formação. Sendo assim, políticas educacionais efetivamente implicam o envolvimento e o comprometimento de diferentes atores, incluindo gestores e professores vinculados aos diferentes sistemas de ensino.

Dessa forma, a gestão educacional tem natureza e características próprias, ou seja, tem escopo mais amplo do que a mera aplicação dos métodos, técnicas e princípios da administração empresarial, devido à sua especificidade e aos fins a serem alcançados. Ou seja, a escola, entendida como instituição social, tem sua lógica organizativa e suas finalidades demarcadas pelos fins político-pedagógicos que extrapolam o horizonte custo-benefício stricto sensu. Isto tem impacto direto no que se entende por planejamento e desenvolvimento da educação e da escola e, nessa perspectiva, implica aprofundamento sobre a natureza das instituições educativas e suas finalidades, bem como as prioridades institucionais, os processos de participação e decisão, em âmbito nacional, nos sistemas de ensino e nas escolas.

Nessa perspectiva, a articulação e a rediscussão de diferentes ações e programas, direcionados à gestão educacional, devem ter por norte uma concepção ampla de gestão que considere a centralidade das políticas educacionais e dos projetos pedagógicos das escolas, bem como a implementação de processos de participação e decisão nessas instâncias, balizados pelo resgate do direito social à educação e à escola, pela implementação da autonomia nesses espaços sociais e, ainda, pela efetiva articulação com os projetos de gestão do MEC, das secretarias, com os projetos político-pedagógicos das escolas e com o amplo envolvimento da sociedade civil organizada.

2- Quais as características das políticas educacionais implantadas nos últimos anos no Brasil?

A constituição e a trajetória histórica das políticas educacionais no Brasil, em especial os processos de organização e gestão da educação básica nacional, têm sido marcadas hegemonicamente pela lógica da descontinuidade, por carência de planejamento de longo prazo que evidenciasse políticas de Estado em detrimento de políticas conjunturais de governo. Tal dinâmica tem favorecido ações sem a devida articulação com os sistemas de ensino, destacando-se, particularmente, gestão e organização, formação inicial e continuada, estrutura curricular, processos de participação.

Desde a redemocratização do país, houve mudanças acentuadas na educação brasileira, com destaque para a aprovação e promulgação da Constituição Federal de 1988, que garantiu uma concepção ampla de educação e sua inscrição como direito social inalienável, bem como a partilha de responsabilidade entre os entes federados e a vinculação constitucional de recursos para a educação. No âmbito das políticas educacionais, destacaram-se, sobremaneira, as modificações de ordem jurídico-institucional.

Nesse contexto, é fundamental ressaltar a busca de organicidade das políticas, sobretudo no âmbito do governo federal e de alguns governos estaduais, na década de 1990, quando, em consonância com a reforma do Estado e a busca de sua “modernização”, se implementaram novos modelos de gestão, cujo norte político-ideológico objetivava, segundo Oliveira (2000, p. 331), “(...) introjetar na esfera pública as noções de eficiência, produtividade e racionalidade inerentes à lógica capitalista”.

No campo educacional, há que se destacar, ainda, o importante papel desempenhado pelos organismos multilaterais na formulação de políticas educacionais no período. Tais constatações evidenciam limites estruturais à lógica político- pedagógica dos processos de proposição e materialização das políticas educacionais, configurando-se, desse modo, em claro indicador de gestão centralizada e de pouca eficácia pedagógica para mudanças substantivas nos sistemas de ensino, ainda que provoque alterações de rotina, ajustes e pequenas adequações no cotidiano escolar, o que pode acarretar a suspensão de ações consolidadas na prática escolar sem a efetiva incorporação de novos formatos de organização e gestão. Isto não redundou em mudança e, sim, em um cenário de hibridismo no plano das concepções e das práticas que, historicamente, no Brasil, têm resultado em realidade educacional excludente e seletiva. Vivencia-se, no país, um conjunto de ações, de modo parcial ou pouco efetivo, sob a ótica da mudança educacional, mas que, de maneira geral, contribui para desestabilizar o instituído, sem a força política de instaurar novos parâmetros orgânicos à prática educativa.

Nessa direção, houve um conjunto de políticas de reestruturação da gestão, organização e financiamento da educação básica. Segundo Cury (2002, p. 197), nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998; 1999-2002) promoveram-se diversas alterações fortemente marcadas

(...) por políticas focalizadoras, com especial atenção ao ensino fundamental, a fim de selecionar e destinar os recursos para metas e objetivos considerados urgentes e necessários. Tais políticas vieram justificadas por um sentido, por vezes satisfatório, do princípio da equidade como se este fosse substituto do da igualdade.

 

Desse quadro, é possível depreender que as políticas focalizadas propiciaram a emergência de programas e ações orientados pelo governo federal aos estados e municípios, destacando-se: a disseminação de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a implantação do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) pelo FUNDESCOLA, a criação do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e a implementação de uma política de avaliação fortemente centralizada, em detrimento de um sistema que propiciasse a colaboração recíproca entre os entes federados.

A rapidez com que se processaram as políticas para a educação básica se deu em função da centralização no âmbito federal. Segundo Cury (2002, p. 199), sem a elaboração de lei complementar que defina o que é regime de colaboração entre os entes federados, prevista no § único do artigo 23, da CF/88, o país vivencia tensões no tocante ao pacto federativo, por meio de “um regime de decisões nacionalmente centralizadas e de execuções de políticas sociais subnacionalmente desconcentradas em que se percebe uma situação de competitividade recíproca (guerra fiscal) entre os subnacionais”.

Tal cenário contribuiu, sobremaneira, para a desarticulação de experiências e projetos em andamento e para a adoção de medidas ligadas às políticas federais para a educação básica, em função da necessidade dos sistemas e escolas buscarem fontes complementares de recursos. Tal adesão, contudo, não provocou, necessariamente, a mudança da cultura institucional dos sistemas e das escolas. Em muitos casos, resultou em ajustes e arranjos funcionais dos processos em curso nesses espaços, alterando, por vezes, a lógica e a natureza das escolas e, em alguns casos, a sua concepção pedagógica, a fim de cumprir obrigações “contratuais” com o governo federal no âmbito da prestação de contas.

Essa lógica e dinâmica política é, ainda, uma realidade no cenário educacional brasileiro, na medida em que não se elaborou a lei complementar que definiria o regime de colaboração recíproca entre os entes federados, manteve-se a indução de políticas, por meio de financiamento de programas e ações priorizadas pela esfera federal, e não se adotou o Plano Nacional de Educação (PNE) como referênciabase para as políticas educacionais. Adicione-se a isso, mais recentemente, a apresentação pelo MEC de um Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que não contou, na sua elaboração, com a participação efetiva de setores organizados da sociedade brasileira, de representantes dos sistemas de ensino e de setores do próprio Ministério.

O PDE apresenta indicações de grandes e importantes ações direcionadas à educação nacional. No entanto, não está balizado por fundamentação técnico-pedagógica suficiente e carece de articulação efetiva entre os diferentes programas e ações em desenvolvimento pelo próprio MEC e as políticas propostas. Tal constatação revela a necessidade de planejamento sistemático, que, após avaliar o conjunto de ações, programas e planos em desenvolvimento, contribua para o estabelecimento de políticas que garantam organicidade entre as políticas, entre os diferentes órgãos do MEC, sistemas de ensino e escola e, ainda, a necessária mediação entre o Estado, demandas sociais e o setor produtivo, em um cenário historicamente demarcado pela fragmentação e/ou superposição de ações e programas, o que resulta na centralização das políticas de organização e gestão da educação básica no país. Trata-se de um cenário ambíguo, no qual um conjunto de programas parece avançar na direção de políticas com caráter inclusivo e democrático, enquanto, de outro lado, prevalece a ênfase gerencial, com forte viés tecnicista e produtivista, que vislumbra nos testes estandardizados a naturalização do cenário desigual em que se dá a educação brasileira.

 

3- Descreva os Programas Federais para a Educação Básica citadas pelo autor e relacione com experiências vivenciadas por você no âmbito da instituição onde trabalha.

O PDE, PDDE e o Programa Nacional de Fortalecimento de Conselhos Escolares.

O FUNDESCOLA é um dos espaços de desenvolvimento de programas do Ministério da Educação, por meio de parcerias com as secretarias estaduais e municipais de educação das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e tem por objetivo promover um conjunto de ações voltadas para as escolas do ensino fundamental.

O FUNDESCOLA, por meio de processos formativos e de apoio à gestão educacional, tem como meta a busca da eficácia, eficiência e eqüidade no ensino fundamental público, ao focalizar o ensino-aprendizagem e as práticas de gestão das escolas e secretarias de educação. As estratégias descritas no PDE enfatizam o desenvolvimento de ações para aperfeiçoar o trabalho, elevar o grau de conhecimento e o compromisso de diretores, professores e outros funcionários da escola com os resultados educacionais. Na área de gestão, o PDE é um dos programas centrais do FUNDESCOLA, dada a sua abrangência e inserção nas três regiões.

Com relação ao PDE, Freitas et al. (2004, p. 71) afirmam que este plano estrutura-se por meio de “uma nova cultura organizacional firmada sobre princípios de gestão estratégica e do controle da qualidade total, orientada pela e para a racionalização, a eficiência e a eficácia”.

Desse modo, ideologicamente, o PDE, desde a sua concepção, “busca criar o consenso em torno da idéia de que a melhoria da educação estaria na adoção dos parâmetros de mercado, com a aplicação de estratégias da empresa privada na gestão da escola pública”. Tal concepção alicerça-se numa ressignificação da gestão democrática e da participação, entendidas a partir da criação de canais de efetiva participação e  decisão coletivas, tendo por norte a educação como um bem público.

Outro ponto fundamental a ser destacado articula-se à concepção restrita de autonomia (restrita à dimensão financeira) e ao caráter diretivo e centralizador do PDE, num cenário em que os profissionais da educação e alguns sistemas de ensino envidavam esforços no sentido de implementar, com base na legislação em vigor, projetos políticopedagógicos cujo norte se contrapunha à concepção gerencialista presente no PDE. Oliveira, Fonseca e Toschi (2004c, p. 198), ao avaliarem o PDE e a gestão pedagógica, físico-financeira e de materiais da escola, adjetivaram a proposição e materialização desse plano por meio da diretividade, burocratização e controle do trabalho escolar.

Apesar do distanciamento inicial da Secretaria de Ensino Fundamental (cuja denominação atual é Secretaria de Educação Básica – SEB) do MEC, o PDE, por meio do FUNDESCOLA, buscou, a partir de 2003, vincular-se a esta Secretaria, dada a singularidade das ações desenvolvidas. A esse respeito, são importantes os movimentos direcionados a uma articulação orgânica entre a Secretaria e o FUNDESCOLA. Por outro lado, em 2004, foi materializada a transferência da gestão integral do FUNDESCOLA para o FNDE (Dourado, 2004, p. 10). Tal mudança contribui, sobremaneira, para o crescente divórcio entre as ações do Fundo, entre elas o PDE, e as ações e programas da SEB, resultando, em muitos casos, na sobreposição de ações e em planos e programas com concepções político-pedagógicas distintas no âmbito do governo federal.

Assim, é fundamental registrar que o FUNDESCOLA desenvolve ações, em especial na área de gestão, sem clara interlocução com as demais políticas das Secretarias do MEC. O PDE, nesse cenário, tem foco e ação político-pedagógica baseados em concepção gerencial, cujo processo ignora o esforço desenvolvido pelo MEC no apoio técnico e financeiro para a democratização da gestão escolar.

O PDDE consiste no repasse anual de recursos por meio do FNDE às escolas públicas do ensino fundamental estaduais, municipais e do Distrito Federal e às do ensino especial mantidas por organizações nãogovernamentais (ONGs), desde que registradas no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS).

Os recursos, oriundos predominantemente do “salário-educação”, são destinados à aquisição de material permanente e de consumo necessários ao funcionamento da escola; à manutenção, conservação e pequenos reparos da unidade escolar; à capacitação e ao aperfeiçoamento de profissionais da educação; à avaliação de aprendizagem; à implementação de projeto pedagógico; e ao desenvolvimento de atividades educacionais. Um dos limites interpostos ao Programa refere-se à estruturação de unidades executoras nas unidades escolares, o que, em muitos casos, tem resultado na instituição de entes privados como gestores de recursos das escolas públicas, em detrimento de outros atores, como conselhos escolares, fortemente referendados por outro programa da SEB/MEC.

Sem descurar da importância do referido Programa no que concerne à descentralização de recursos financeiros para a escola, em cenário de nítida escassez de recursos, a análise do PDDE demonstra que sua implementação tem resultado no desrespeito ao pacto federativo, na medida em que o Programa atropela os sistemas de ensino ao redefinir novos formatos de gestão para as escolas públicas, por meio do “estabelecimento de relações diretas entre as escolas beneficiadas e o FNDE, sem a intervenção de instâncias governamentais locais na definição e execução dos gastos” (idem, ibid., p. 264).

Outro aspecto ressaltado refere-se à pequena participação da comunidade escolar, pois “o fato do Programa não pressupor para a sua realização a efetiva democratização da gestão da esfera pública fez com que, em muitos casos, fosse pequena a desejada participação da comunidade na operação de recursos repassados”. Todos esses indicadores demonstram que as bases político-pedagógicas do PDDE, a despeito de possibilitar às unidades escolares a gestão de pequenos recursos, por meio de entidade privada, não contribuíram efetivamente para a democratização dos processos de deliberação coletiva e, ainda, restringiram a autonomia à gestão financeira da escola.

O Programa de Fortalecimento de Conselhos escolares tem por objetivo contribuir com a discussão sobre a importância de conselhos escolares nas instituições e visa, ainda, ao fortalecimento dos conselhos existentes. Os conselhos escolares configuram-se, historicamente, como espaços de participação de professores, funcionários, pais, alunos, diretores e comunidade nas unidades escolares. Em alguns casos, constituem-se em espaços coletivos de deliberação, assumindo, desse modo, o papel de órgão co-responsável pela gestão administrativa e pedagógica das escolas e, em outros, em razão de sua atuação restrita à aprovação da prestação de contas e medidas disciplinares, em determinadas situações, foram transformados em unidades executoras em razão do PDDE.

O Programa foi criado, portanto, pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação, mediante a Portaria Ministerial n.2.896/2004. Visa à implantação e ao fortalecimento de conselhos escolares nas escolas públicas de educação básica nas cinco regiões do país,envolvendo os sistemas de ensino públicos estaduais e municipais, por meio de sua adesão à sistemática de apoio técnico, pedagógico e financeiro do Ministério da Educação.

De acordo com a mesma Portaria Ministerial, tem por objetivos:

I - Ampliar a participação das comunidades escolar e local na gestão administrativa, financeira e pedagógica das escolas públicas;

II - apoiar a implantação e o fortalecimento de conselhos escolares;

III - instituir políticas de indução para implantação de conselhos escolares;

IV - promover, em parceria com os sistemas de ensino, a capacitação de conselheiros escolares, utilizando inclusive metodologias de educação a distância;

V - estimulara integração entre os conselhos escolares;

VI - apoiar os conselhos escolares na construção coletiva de um projeto educacional no âmbito da escola, em consonância com o processo de democratização da sociedade; e

VII - promover a cultura do monitoramento e avaliação no âmbito das escolas para a garantia da qualidade da educação.

A referida Portaria define, ainda, que a execução do Programa será de responsabilidade da SEB e que esta deverá contar com a participação de órgãos e organismos nacionais e internacionais em um trabalho integrado de parcerias para a consecução dos objetivos. Nesse sentido, vale ressaltar que a efetivação dos objetivos preconizados envolve, fundamentalmente, a adesão ao Programa pelos estados e municípios.

O Programa estruturou-se a partir de processos de formação continuada dos diversos segmentos que compõem a unidade escolar, por meio de duas frentes articuladas – de um lado, pela realização de seminários estaduais de formação, seminário internacional de gestão, seminários municipais e, de outro, pela oferta de curso de formação pela modalidade de educação a distancia.

Apresenta-se organizado a partir de cinco eixos iniciais – conselhos escolares, democratização da escola e construção da cidadania; conselho escolar e o respeito e valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade; conselho escolar e o aproveitamento significativo do tempo pedagógico; conselho escolar e a aprendizagem na escola; conselho escolar, gestão democrática da educação e escolha do diretor. Em seguida, o Programa ampliou tais eixos com as seguintes temáticas: conselho escolar como espaço de formação humana; conselho escolar e o financiamento da educação; conselho escolar e a educação no campo; conselho escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com igualdade social.

Além desses núcleos temáticos, contemplou-se a discussão sobre os indicadores de qualidade da educação e os conselhos escolares como estratégia de gestão democrática da educação pública. Como é possível evidenciar, tais temáticas abrangem importantes questões em debate nas unidades escolares.

Em que pese a centralidade conferida a esse Programa, é fundamental destacar que o eixo da gestão democrática e da efetiva participação, bem como a centralidade conferida a órgãos de deliberação coletiva como os conselhos escolares, encontra limites em outros programas do próprio governo federal já analisados.

Niveis de ensino, desafios,avanços e contradições


NÍVEL DE ENSINO
DESAFIOS
AVANÇOS
CONTRADIÇÕES
Educação Infantil
- Enfrenta-se hoje o desafio de ampliar as políticas para a educação das crianças de zero a cinco anos, de refletir
sobre as diferentes formas de viver a infância (indígenas, quilombolas, ribeirinhas, urbanas, do campo, da
floresta) e de definir as bases curriculares nacionais para essa fase da vida escolar que passou a ser parte da
educação básica.
- Projetos pedagógicos específicos para essa etapa são necessários, bem como a redefinição do
trabalho docente para atuar em creches e pré-escolas, considerando as três funções indissociáveis da Educação
Infantil:
Função social
Função política
Função pedagógica
 
No ano de 2009, visa ndo a discussão dessa questão, elaborou-se um instrumento de autoavaliação intitulado “Indicadores de Qualidade da Educação Infantil”. O objetivo do documento foi traduzir e detalhar os parâmetros publicados em 2006 em indicadores operacionais, no sentido de oferecer às equipes de educadores e às comunidades atendidas pelas instituições de Educação Infantil um instrumento adicional de apoio ao seu trabalho. Essa iniciativa pretendeu contribuir com as instituições de Educação Infantil no sentido de encontrar seu próprio caminho na direção de práticas educativas que respeitem os direitos fundamentais das crianças e ajudem a construir uma sociedade mais democrática.
Dado que as características da faixa etária das crianças da Educação Infantil exigem conceber um outro tipo de estabelecimento educacional, é preciso também que a gestão da instituição se baseie numa revisão de conceitos sobre o que é a escola, a infância, o conhecimento e o currículo! O currículo na Educação Infantil é aquilo que se constrói no diálogo entre crianças, famílias e docentes e se manifesta em todas as interações do dia a dia. O documento, que objetiva pensar as práticas na Educação Infantil (MEC/SEB, 2009b), afirma que os campos de aprendizagem dessas crianças são as práticas sociais e as linguagens, expressos em inter-relação com o cotidiano. Nesse contexto, deve-se repensar o currículo compreendendo os elementos constituintes das práticas na Educação Infantil.
Ensino Fundamental
A ampliação do Ensino fundamental para nove anos. Seu objetivo é que todas as crianças de seis anos, sem distinção de classe, sejam matriculadas na escola. Contudo, inserir crianças de seis anos no ensino fundamental, evidentemente, não garante por si só uma aprendizagem de
maior qualidade. Isso depende, sobretudo, de um uso mais eficaz do tempo, baseado na organização qualitativa do trabalho pedagógico e dando atenção às características etárias, sociais e psicológicas das crianças.
Como assegurar a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental? Essa passagem deve ocorrer da forma mais natural possível, não provocando nas crianças rupturas e impactos negativos no seu processo de
escolarização. Dessa maneira, as escolas que estiverem organizadas pela estrutura seriada não podem acrescentar mais uma série, com as características e a natureza daquela que era a primeira série. Os seus projetos político pedagógicos devem ser propostos no sentido de permitir a flexibilização dos tempos, a fim de contribuir para o desenvolvimento da criança, possibilitando-lhe, efetivamente, uma ampliação qualitativa do seu tempo na escola.
Trabalhar com as crianças de seis anos na escola envolve compreender o fato de que elas vivem numa sociedade
cuja cultura dominante é a letrada. Desde que nascem, as crianças constroem conhecimentos prévios sobre o sistema de representação e o significado da leitura e da escrita que se transformam em valorização social da
aquisição de habilidades de ler e escrever. No entanto, a entrada na escola para essas crianças não pode
representar uma ruptura completa com o estágio de vivência anterior, em casa ou na instituição de Educação
Infantil, mas é preciso ser uma continuidade das suas experiências anteriores para que sistematizem
gradualmente os conhecimentos sobre a língua escrita.
A escola deve elaborar estratégias de formação continuada dos professores que atuam no Ensino
Fundamental para que sejam encontradas novas ações pedagógicas, sendo indispensável o desenvolvimento de atitudes investigativas, de alternativas pedagógicas e metodológicas na busca de uma qualidade social da
educação.
Ensino Médio Integrado (EMIEP)
- Um grande desafio para o Ensino Médio continuou sendo a dualidade entre o propedêutico e o profissionalizante. A busca de um modelo unitário, que integrasse os conceitos de trabalho, ciência e cultura como conceitos que estruturam as finalidades do Ensino Médio e orientam a sua organização curricular e as práticas pedagógicas do seu processo formativo, mais uma vez foi adiada e depende ainda hoje de experiências que possibilitem tal
organização.
- Eixos da organização do currículo dos cursos de EMIEP: o trabalho, a ciência e a cultura. Esta organização curricular é em dúvida um dos grandes desafios educacionais para o Século XXI.
A mobilização dos educadores, no entanto, e uma maior sensibilidade governamental, permitiu um passo
importante para a superação da dualidade. A nova legislação indicou três formas de articulação entre a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio: a integrada, a concomitante e a subseqüente.
O EMIEP é um curso planejado que conduz, simultaneamente, a um diploma e a um certificado com base em uma
única matriz curricular, uma única matrícula por aluno, e uma carga horária que pretende assegurar o cumprimento das duas finalidades – formação geral e profissional. Para tanto, há convergência de objetivos do ensino médio e do ensino técnico, buscando-se uma sólida e atualizada formação científica, tecnológica, cultural e ética.
Programa Ensino Médio Inovado
No ano de 2009, o governo federal lançou um programa viabilizando outras inovações para o currículo do ensino médio, de forma articulada aos programas e ações já em desenvolvimento nos âmbitos federal e estadual. O programa possui “linhas de ação” que envolvem diversos aspectos que permeiam o contexto escolar, tais como: fortalecimento da gestão escolar e dos sistemas; melhoria das condições de trabalho docente e sua formação
inicial e continuada; apoio às práticas docentes; desenvolvimento do protagonismo juvenil e apoio ao aluno jovem e adulto trabalhador; infra-estrutura física e recursos pedagógicos; elaboração de pesquisas relativas ao ensino médio e à juventude, entre outros.
A proposta do Programa Ensino Médio Inovador tem como objetivo a melhoria da qualidade do ensino médio nas escolas públicas, buscando principalmente desenvolver nos alunos a promoção da capacidade de pensar, refletir, compreender e agir sobre as determinações da vida social e produtiva, articulando trabalho, ciência e cultura na perspectiva da emancipação humana, de forma igualitária a todos os cidadãos.
O programa propõe, além das orientações metodológicas estabelecidas no seu interior, percursos formativos organizados pelas unidades escolares envolvidas seguindo a legislação em vigor e as diretrizes curriculares dos Estados. Permite a ampliação da carga horária, além da mínima anual de oitocentas horas, distribuídas em duzentos dias letivos.
Deve então o currículo do ensino médio ser modificado? Devem ser acrescentados
componentes  técnicos no currículo do ensino médio?
Tais componentes podem existir, mas devem ser necessariamente desenvolvidos de forma integrada aos diversos conhecimentos. Por isso mesmo não é uma proposta fácil e precisa ser construída  processualmente pelos sistemas
e instituições de ensino, visando a práticas curriculares e pedagógicas que levem à formação plena do educando e possibilitem construções intelectuais.