José Cerchi Fusari: “Planejar
evita o excesso de improviso pedagógico”.
Com mais de 40 anos de experiência em educação,
José Cerchi Fusari* defende a retomada do planejamento educacional como uma
atividade realizada durante todo o ano letivo e não somente no início.
Professor doutor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP),
Fusari trabalhou sistematicamente na formação de pedagogos, professores e
pesquisadores. É doutor em educação pela USP, mestre em filosofia da educação
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), formado em
pedagogia pela PUC–SP e egresso das antigas escolas normais de formação de professores.
Além da longa experiência em ensino fundamental, médio e superior, no momento
coordena na FEUSP o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação de Educadores
(GPEFE).
JP - O que se entende por planejamento de ensino?
Qual o seu conceito?
JCF - A maioria das escolas brasileiras organiza no
começo do ano uma semana de planejamento. Isso tem um lado positivo e negativo.
Como não há uma cultura de planejamento, isso acaba limitando-o àquilo que
acontece somento no início do ano letivo. Planejar não pode ser caracterizado
como uma atividade datada e situada, deve ser um processo mais amplo, caso
contrário, cairemos no “repentismo pedagógico” em que as escolas vivem de
improvisos. Sendo assim, o planejamento pode ser definido como um processo
permanente, crítico e reflexivo vivenciado pelos educadores, em especial, nos
200 dias letivos e para além deles. É muito mais amplo do que a elaboração de
planos e projetos. O planejamento é uma atitude, um valor que damos ao pensar,
ao refletir. Ao fazer isso, valorizamos os educadores enquanto protagonistas do
processo de educação escolar.Atualmente, o planejamento escolar está
estigmatizado como uma tarefa supérflua, desnecessária e burocrática.
Entretanto, é importante recuperar a identidade do planejamento na escola como
uma vivência, uma atitude. O planejamento transformado em cultura vai propiciar
bons projetos, planos de aula e planos de ensino.
JP - É importante a participação da
comunidade e dos conselhos escolares na hora de formular o plano de ensino?
Como eles podem contribuir?
JCF - Toda escola se organiza a partir de um
currículo formal, o qual serve de base para a construção de um Projeto Político
Pedagógico (PPP). A construção deste projeto deve ser feita coletivamente, de
maneira participava, costurada com a comunidade na qual a escola está inserida.
Por isso, podemos dizer que o projeto é uma obra aberta. O PPP está sempre
sendo reinventado porque a relação da escola com a comunidade é dinâmica. A
comunidade pode contribuir de várias formas. Sabemos que existem escolas muito
fechadas em relação a comunidade, mas tem escolas que conseguem ter um diálogo
mais aberto. Para isso, há formas instituídas como os conselhos escolares, que
funcionando democraticamente, estabelecem um canal de comunicação rico e saudável
para a escola. A escola tem que ir além do que é a expectativa da comunidade. O
PPP tem uma função tripolar: está voltado para a educação dos alunos, mas
também para a educação dos professores e da comunidade. Assim a comunidade se
torna co-responsável pela escola e seu projeto pedagógico.
JP - O que deve ser levado em consideração na hora
de montar um plano escolar, curricular e de aula?
JCF - O fundamental não é decidir se o plano será
redigido no formulário x ou y, mas assumir que a ação pedagógica necessita de
um mínimo de preparo, mesmo tendo o livro didático como um dos instrumentos
comunicacionais no trabalho escolar em sala de aula. É importante desencadear
um processo de repensar todo o ensino, buscando um significado transformador
para os elementos curriculares básicos:
Princípios educacionais – Estão presentes na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação. Entretanto, é interessante que a escola se
reúna e reescreva os princípios levando em consideração as situações locais. Os
princípios são o ponto de partida do processo de elaboração de um plano escolar
e é interessante que acompanhe todo o processo de planejamento escolar.
Objetivos – Estes são os pontos de chegada, onde se pretende
chegar com as atividades da escola, de cada disciplina e das aulas.
Conteúdo – É necessário também prever o conteúdo como um
recorte do conhecimento que fará parte de cada disciplina. Conhecimento este
produzido históricamente pela humanidade.
Métodos de ensino – Concomitante a definição dos objetivos que
constituem o ponto de partida para qualquer método de ensino, cumpre ao
professor e supervisor o planejamento de técnicas, instrumentos, procedimentos,
situações e experiências de ensino que visam engajar o aluno em situações
capazes de produzir aprendizagens crítico-reflexivas.
Avaliação – A avaliação é o processo pelo qual a escola e os
professores procuram determinar a qualidade e quantidade de mudanças efetuadas
na aprendizagem dos educandos, sempre tendo como referência os princípios,
objetivos, conhecimentos, metas e sistemas de avaliação. As situações de
avaliação são mais facilmente escolhidas e planejadas quando os objetivos são
bem definidos.
JP - Qual plano deve ser prioritário: escolar,
curricular ou de aula?
JCF - Os três tipos de plano se complementam, se
interpenetram e compõem o corpo do plano de currículo da escola. Entretanto, na
prática das unidades escolares, devido à quase total falta de condições de
trabalho docente, a elaboração dos planos escolar, de curso e de ensino tem-se
revelado complexa, fragmentada, longe mesmo, em alguns casos, daquela
organicidade desejada para o processo de ensino e aprendizagem.Na atual
conjuntura problemática em que se encontram a escola, vamos estimular os
professores a prepararem as suas aulas, garantindo, deste modo, um trabalho
mais interessante e produtivo no processo ensino e aprendizagem, no qual o
professor seja um bom mediador entre os alunos (com suas características e
necessidades) e os conteúdos do ensino.
jcfusari@usp.br
(Renata Chamarelli)
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