sexta-feira, 7 de agosto de 2015

MENINAS NO COMANDO

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ACESSO: 07/08/2015 as 11:28h
 

Alunas do ensino fundamental da rede pública na periferia de Fortaleza ingressam com o pé direito no mundo da programação, desenvolvendo aplicativos para solucionar problemas enfrentados pela sua comunidade
Por: Everton Lopes
Publicado em 24/06/2015 | Atualizado em 29/06/2015
Meninas no comando
Incentivadas por professores, alunas de escolas públicas de Fortaleza (CE) começaram a programar aplicativos para atender necessidades de suas comunidades. (foto: United States Mission Geneva / Flickr / CC BY-ND 2.0)
Um grupo de garotas se reúne em sala de aula numa escola pública da periferia de Fortaleza (CE) para discutir os próximos passos de seus projetos. Não se deixe enganar pela pouca idade das participantes, pois o movimento é de gente grande: apoiadas por seus professores e escolas, elas decidiram empreender no ramo da programação, desenvolvendo aplicativos que atendem diretamente necessidades da região onde vivem. Com os primeiros resultados, elas se inscreveram em um desafio internacional de empreendedorismo e tecnologia para mulheres – agora, estão na expectativa pelos resultados.
Tifany Ambrósio, Raissa Silva, Keliane Gomes, Kaiane Costa e Vitória Dias são alunas da Escola Municipal Maria Helenilce Cavalcante Leite Martins. Talita Cabral e Milena Sousa, da Escola Municipal Taís Maria Bezerra Nogueira. Cursando o sexto ano, todas têm por volta de 11 anos e vivem nos bairros de Jangurussu e Conjunto Palmeira, numa área pobre da capital cearense que inclui o bairro com o pior índice de desenvolvimento humano da cidade. “Essa região sofre com os reflexos das desigualdades sociais de Fortaleza”, destaca Cleudson Silva, professor da rede municipal da cidade e principal responsável por incentivar as alunas na nova empreitada. “A educação é o meio para reverter esse quadro e a função do professor é apresentar as alternativas”, aposta.
"A educação é o meio para reverter desigualdades e a função do professor é apresentar as alternativas"
Silva ficou sabendo do programa global Technovation Challenge e decidiu levar a proposta às escolas. Logo surgiram os grupos de interessadas. Apoiadas pelo Palmas Lab – laboratório de inovação e pesquisa para a inclusão social via tecnologia de informação, ligado ao Banco Palmas, um banco comunitário nascido nessa mesma periferia – e pelo portal Programaê, que disponibiliza materiais gratuitos para quem deseja aprender a programar, as garotas começaram a trabalhar.

Apertando o play

Segundo Silva, a ideia inicial era que as garotas desenvolvessem seus projetos em aplicativos para smartphones que apresentassem soluções para os problemas da comunidade. Na Escola Municipal Taís Maria Bezerra Nogueira, o grupo idealizou Cantando e Aprendendo, que funciona como um karaokê portátil, avaliando o desempenho do usuário e oferecendo dicas para melhorar o uso da voz.
Cantando e Aprendendo
As meninas desenvolveram uma pesquisa de campo sobre timidez e acabaram se deparando com outro problema: o das dificuldades na fala. O jogo Cantando e Aprendendo tem como objetivo ajudar nessas duas frentes, além de divertir. (imagem: Reprodução)
“As estudantes pensaram em um programa voltado para as próprias necessidades e para ajudar quem mais sofresse com os problemas da timidez e as falhas na dicção. Juntaram isso com o gosto pela música e projetaram o aplicativo”, conta Lúcio Márcio de Souza Rebouças, coordenador pedagógico da escola.
Já na Escola Municipal Maria Helenilce Cavalcante, o grupo de meninas decidiu usar a arte produzida pelas crianças para gerar renda. Criaram, então, o Traço Kids, uma galeria virtual com desenhos feitos por crianças da comunidade que podem ser adquiridos por quem desejar utilizá-los em estampas diversas. O aplicativo está disponível para download na página Fábrica de Aplicativos e já começou a funcionar. O dinheiro arrecadado é usado na compra de mais materiais para as crianças.
Traço Kids
Traço Kids é uma galeria virtual de imagens, que pretende dar visibilidade aos jovens artistas do Conjunto Palmeiras. Os fundos arrecadados com a venda de estampas são revertidos em materiais de desenho e pintura para as crianças. (imagem: Reprodução)

Em direção ao futuro

Em março de 2015, o Instituto Banco Palmas – braço social do Banco Palmas – organizou um evento para a comunidade do Conjunto Palmeira relacionado aos Startup Weekends, eventos independentes organizados no mundo inteiro com a finalidade de dar suporte técnico e prático para novas ideias que podem ser lançadas como startups.
Tanto o grupo de estudantes de Jangurussu e quanto o do próprio Conjunto Palmeira participaram. Dos vinte projetos inscritos, dez foram escolhidos para receber ajuda intensiva de especialistas, aperfeiçoar suas ideias e colocá-las em ação. No ranking final do evento, elaborado pela equipe organizadora, Traço Kids ficou em segundo lugar, enquanto Cantando e Aprendendo recebeu menção honrosa – um começo animador e que, em breve, pode começar a mudar a realidade de outras meninas que vivem em situação semelhante.
Segundo o coordenador do Palmas Lab, Asier Ansorena, a ideia agora é estender o projeto e levar os cursos de apoio ministrados pelo laboratório para dentro das escolas, incentivando ainda mais crianças a ingressarem no diverso mundo da programação. “Essa iniciativa desperta a capacidade e a criatividade das pessoas para lidar com os problemas sociais que enfrentam, empoderando-as para a busca de soluções”, encerra Ansorena.

Everton Lopes
Instituto Ciência Hoje/ RJ

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