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ACESSO: 22/04/2016 as 18:26h
Um estudo feito por seis pesquisadores da Thomson Reuters, empresa de
comunicação que produz informações sobre a ciência, analisou o impacto
que casos de má conduta científica produzem em seu entorno e concluiu
que o prejuízo se concentra nos artigos que são alvo de retratação e em
seus autores principais, sem afetar a instituição onde o pesquisador
acusado de fraude ou plágio atua. Quem inadvertidamente citou o artigo
cancelado em seus trabalhos ou publicou outros papers em
coautoria com o pesquisador acusado também mantém sua reputação
acadêmica isenta dos efeitos deletérios da retratação. Os dados foram
divulgados em fevereiro no repositório eletrônico arXiv.
Os pesquisadores analisaram 2.659 artigos retratados em várias áreas
do conhecimento entre 1980 e 2014, todos indexados na base de dados Web
of Science, da Thomson Reuters. Desse total, identificaram o motivo do
pedido de retratação de 1.666 papers. Mais de 25% eram casos de
plágio. Aproximadamente 24% das retratações decorreram de erros não
intencionais cometidos pelos autores e cerca de 23% dos artigos foram
cancelados por falsificação ou fabricação de dados. Uma hipótese
apresentada pelos autores da pesquisa é de que o plágio se tornou mais
frequente com a crescente disponibilidade de literatura científica na
internet.
Também se constatou que autores de papers retratados passam a
ser menos citados. Autores que falsificaram ou fabricaram dados sofrem
maior prejuízo na sua reputação do que os que cometeram erros não
intencionais, e a repercussão do escândalo na imprensa potencializa esse
efeito. As instituições de pesquisa ou os campos do conhecimento aos
quais o artigo retratado se vincula praticamente não sofrem impacto. O
estudo cita um exemplo: o sul-coreano Woo-Suk Hwang, autor de dois
artigos fraudulentos sobre células-tronco publicados na revista Science
em 2004 e 2005, foi severamente punido com uma queda de citações de
seus outros trabalhos, mas o prejuízo não atingiu o Colégio de Medicina
Veterinária da Universidade Nacional de Seul, que manteve uma curva
ascendente de citações. O estudo também revela que as retratações
acontecem mais nas ciências médicas e biológicas.
“O aspecto mais original desse estudo é avaliar os efeitos da
retratação em instituições e áreas do conhecimento”, afirmou Ferric
Fang, autor de pesquisas sobre retratação e professor da Universidade de
Washington.ét “As evidências de que retratações resultam em declínio
nas taxas de citação, particularmente quando há má conduta, são um sinal
de que o sistema funciona como deveria”, disse ele ao blog Retraction
Watch.
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