DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2016/02/19/mecanismos-de-correcao/
ACESSO: 12/03/2016 as 11:05h
Houve crescimento no número de casos de má conduta científica
detectados no Brasil nos últimos anos, sugere artigo publicado na
revista Science and Engineering Ethics por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo analisou mais de 2 mil papers
indexados na biblioteca virtual brasileira SciELO (sigla de Scientific
Eletronic Library On Line) e à base de dados latino-americana de
informações em ciências da saúde (Lilacs) entre 2009 e 2014. Foram
identificados 31 artigos que sofreram retratação, que é o cancelamento
de sua publicação devido a fraudes ou erros graves. Desse total, 25
trabalhos eram de autores brasileiros.
O plágio foi a principal razão para as retratações dos artigos
brasileiros, responsável por 46% dos casos. O estudo mostra que as
retratações estão em ascensão nas duas bases de dados: entre 2004 e
2009, foram identificadas de uma a duas retratações por ano; já entre
2011 e 2012, a média subiu para sete. De acordo com Renan Moritz
Almeida, professor da UFRJ e autor principal da pesquisa, uma hipótese
que explica o aumento dos casos de plágio detectados no país é a
introdução de softwares que mapeiam a repetição de trechos em mais de um
texto sem o devido crédito ao autor.
Nos últimos anos, universidades, institutos de pesquisa, agências de
fomento e editoras científicas vêm utilizando programas como esse para
coibir abusos. “Hoje há uma maior atenção ao fenômeno, principalmente
por parte dos editores”, diz Almeida, que reconhece que o número de
casos é pequeno. “No entanto, é interessante ressaltar que a primeira
retratação nas revistas que estão na SciELO deu-se em 2008, menos de 10
anos atrás.” Sonia Vasconcelos, coautora do estudo, chama a atenção para
o fato de os resultados apontarem para uma maior participação de
periódicos científicos indexados em bases menos tradicionais no processo
de correção da literatura. “Essa participação de alguma forma reflete
comprometimento maior de editores com mecanismos de correção, o que, a
longo prazo, pode ter um impacto positivo na qualidade das publicações”,
afirma.
Sonia Vasconcelos explica que, nos últimos anos, o Brasil assumiu
posição de liderança na pesquisa e iniciativas educacionais em ética na
pesquisa na América Latina. Ela cita algumas experiências na promoção de
uma cultura de integridade científica no país, como o Código de boas práticas científicas,
produzido e lançado pela FAPESP em 2011, que contém diretrizes éticas
para a atividade profissional dos pesquisadores que recebem bolsas e
auxílios da Fundação. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) também
criaram suas próprias normas de conduta.
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